Garantir a propriedade intelectual é o primeiro passo para transformar ideias em negócios de sucesso; e ainda proporcionar segurança para empreendedores, promover vantagem competitiva e agregar valor de mercado às criações intelectuais
Por Sâmia Frantz
revista@fapesc.sc.gov.br
O negócio que deu certo para a designer de moda, Laís Zkaya, não nasceu com o nome que tem hoje. Era Zakii. Virou Zkaya. Uma mudança que representou muito mais do que uma mera dança de letras. Porque não foi uma escolha. Nem estava nos planos. Depois de quase três anos de história, a Zakii esbarrou no registro de marca.
Foi um baque. Zakii não estava disponível no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), mas acompanhava Laís há mais de dez anos, antes mesmo de virar a empresa catarinense que fabrica e comercializa bijuterias, bolsas, calçados, turbantes e bonecas de pano com estampas e temáticas africanas. Havia um vínculo afetivo ali: era o nome dado às primeiras criações que ela fez, ainda adolescente, e também ao desfile de encerramento do curso de Moda. E, claro, era também a forma como os clientes reconheciam a marca.
Hoje, o novo nome, Zkaya, representa mais o negócio e trouxe mais potência às peças porque traduz muito melhor o conceito da empresa. “Essa troca não foi algo simples. Hoje entendo que construir uma empresa é também fortalecer o seu nome. Não se proteger com o registro da marca é como atuar em terreno alugado: a qualquer momento, alguém pode tomar da gente e levar todo o trabalho até ali”, conta Laís.
Mas não é todo mundo que entende a trajetória de Laís. O registro de marca nem sempre é uma prioridade para os empreendedores – sequer passa pela cabeça de muitos, que acabam sempre deixando para depois. Um depois que pode custar caro.
A ausência de registro pode trazer riscos que vão além da imagem negativa. Também podem levar a desfalques financeiros, com pagamento de indenizações pelo uso não autorizado de outra marca, e até perda do investimento feito em marketing, propaganda e divulgação. E o risco não é só esse. Tudo aquilo que envolve a criação do intelecto humano – a chamada propriedade intelectual – também corre o risco de ser perdido.
A propriedade intelectual é um dos ativos mais valiosos de uma empresa. É uma espécie de guarda-chuva que reúne todo tipo de proteção regulamentada pelo Inpi, do direito autoral à patente, por exemplo. Tutelar o que é criado pelo intelecto humano é, antes de tudo, salvaguardar a empresa da concorrência, da má-fé e de abusos como imitações e cópias não autorizadas. Essa proteção é tão importante quanto todos os outros esforços exigidos de um negócio em crescimento, como a construção da sua imagem e reputação e a conquista da confiança do cliente. Afinal, é isso que diferencia uma empresa de todas as outras.
Nenhum negócio nasce para ser pequeno. Qualquer empresa que espera crescer precisa se preocupar em proteger aquilo que oferece ao mercado. Serve para quem vai a uma rodada de pitch, quem busca investimento e quem pretende disputar com grandes players
Camila Nunes, especialista em Propriedade Intelectual
Proteção antes mesmo do CNPJ
Depois de voltar de um pós-doutorado em Ciências da Saúde e Tecnologia fora do país, três pesquisadores em Farmacologia, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), perceberam que os resultados de seus estudos sobre dor crônica poderiam gerar muito mais do que artigos científicos. Havia um negócio ali.
Nasceu, assim, a Techpain, uma plataforma que monitora a evolução da dor do paciente e informa o médico em tempo real.
Mas isso tudo ainda era uma ideia quando os três decidiram submetê-la ao programa Centelha, uma iniciativa da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), que ajuda empreendedores a transformar ideias inovadoras em negócios de sucesso. No projeto apresentado, eles incluíram como orçamento não só o desenvolvimento da tecnologia, mas também tudo aquilo que consideravam importante, como providenciar a propriedade intelectual do que estava sendo criado. No caso deles, o registro de marca, do software e da patente.
“Tudo isso representa um investimento significativo para uma startup que tem limitações de recursos financeiros, mas traz uma segurança que é fundamental para o sucesso em longo prazo. Ajuda a garantir vantagem competitiva e a construir maior valor de mercado. Também pode ser um ativo atraente para investidores e parceiros”, conta uma das sócias, a farmacêutica bioquímica Fabiana Noronha Dornelles.
Depois de selecionada pelo Centelha, a ideia saiu do papel e ganhou o seu CNPJ. O registro da marca foi, inclusive, o primeiro gasto da Techpain como empresa, a primeira nota fiscal emitida. O software veio logo depois que a primeira versão da tecnologia terminou de ser desenvolvida. A patente, por sua vez, será o próximo e último passo.