Unindo pesquisa e inovação, a Escola de Educação Básica (EEB) Bom Pastor, em Chapecó, coleciona troféus e se destaca em competições nacionais e internacionais quando o assunto é tecnologia

Por Milena Nandi – Fapesc
Fotos Milena Nandi – Fapesc e Arquivo

O que uma escola estadual do Oeste catarinense tem que a faça receber tantos prêmios – inclusive internacionais? Qual é o segredo da Escola de Educação Básica Bom Pastor, de Chapecó, duas vezes vencedora do Prêmio Inovação Catarinense Professor Caspar Erich Stemmer? A resposta pode até parecer simples na teoria, mas exige esforço e muita dedicação na prática. O segredo, da Bom Pastor, é as pessoas. Ou melhor, professores e estudantes engajados e com vontade de fazer da escola, um local de ensino que use a pesquisa e a inovação como aliados para expandir os horizontes do processo educacional.

A diretora geral da instituição de ensino, Jane Beatriz Mohr dos Santos, evidencia a importância dos professores na promoção deste movimento que tem levado a Bom Pastor a se destacar. Ela, que é educadora há 25 anos na escola, acredita nos projetos desenvolvidos para colaborar com a formação diferenciada dos estudantes.

Coleção de troféus

Quando o professor Carlos Rutz conheceu o Laboratório de Matemática da Escola Bom Pastor e deu início, em 2014, à Oficina de Robótica, não imaginava a proporção que o projeto tomaria. Oito anos depois, a Robotic League, equipe da escola que participa de competições regionais, nacionais e internacionais de robôs, coleciona mais de 40 troféus e destaque em duas categorias no Prêmio Inovação Catarinense Professor Caspar Erich Stemmer.

Oficina de Robótica
Desde 2014, o professor Rutz coordena os trabalhos de inovação dos estudantes da escola Bom Pastor

No início, eram construídos pequenos protótipos a partir de ideias dos estudantes para solucionar problemas. O trabalho foi evoluindo e assim, a participação em competições iniciou. Em 2016, a equipe chegou, pela primeira vez, a uma final de campeonato. Dois anos depois, foi vencedora do Torneio Internacional de Robôs, em São Paulo, que reuniu participantes do Brasil, Chile, Uruguai, Argentina e Peru.

Em 2019, mais uma vitória na competição e o reconhecimento da Secretaria de Estado da Educação, que incluiu os monitores da Oficina de Robótica no Programa de Estágio Novos Valores. “Os encontros semanais no Laboratório de Matemática passaram a ser diários e o projeto passou para outro momento. Incluímos a pesquisa e escrita de artigos, o que colabora no aprendizado e dá ao estudante um sentimento de protagonismo e de responsabilidade por tudo o que está fazendo”, afirma Rutz.

Não é apenas sobre robôs

O desempenho da equipe Robotic League se destacou também na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), quando o projeto de uma caixa de remédios automatizada ficou em segundo lugar. A ideia foi apresentada em língua inglesa e, por meio do projeto, a escola recebeu fomento financeiro da embaixada americana e criou a Feira de Ciências e English do Bompa (FecieBompa), em 2021. Sob orientação dos professores, estudantes do Ensino Médio tiveram a oportunidade de apresentar seus trabalhos por meio de um pitch em inglês.

Para Netaly Ghidolin Conte, 19 anos, umas das responsáveis pelo projeto da caixa de medicamentos, a participação no processo de pesquisa e desenvolvimento do produto foi enriquecedor. Hoje estudante do curso de Fisioterapia, na Universidade Comunitária de Chapecó (Unochapecó), Netaly entrou na Oficina de Robótica em 2018.

Caixa inteligente
Trabalho de pesquisa de Netaly Ghidolin Conte e Camila Vanin foi premiado na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia

“Eu e a Camila fomos convidadas a pensar em um problema importante da nossa comunidade, e também uma solução. Lembramos dos nossos avós, que precisam tomar medicação, mas nem sempre conseguem fazer isso corretamente. Imaginamos que esse é um problema de outros idosos e uma preocupação de muitas famílias. Assim surgiu a ideia da caixa automatizada de medicamentos”, conta Netaly.

O projeto foi desenvolvido em 2019, ao longo de sete meses, e envolveu pesquisa de mercado e de materiais, desenvolvimento do modelo e registro do processo em forma de artigo. De acordo com Netaly, a caixa possui locais para guardar os remédios e emite sinais sonoros e de luz para avisar o idoso sobre a hora de tomar a medicação. O artefato também tem escrita em braile e permite que a família do idoso acompanhe a movimentação.

Ficou curioso? Acesse o vídeo para conhecer a caixa de medicamentos

Participação democrática

Para participar da Oficina de Robótica, o único requisito para os estudantes da escola Bom Pastor é estar cursando o Ensino Médio. Todos os anos, são abertas 20 vagas, 10 para alunos e 10 para alunas, que não precisam ter conhecimentos prévios de programação e nem ser expert em exatas.

No primeiro ano, os participantes recebem orientação do professor Rutz e de estudantes que estão há mais tempo na Robotic League – a partir do segundo ano de projeto, os alunos que se destacam viram monitores.

Soluções para a comunidade

Em 2021, a partir de uma provocação feita pelo professor Oeliton Vieira Fortes, durante uma aula de matemática, em uma turma do Terceirão da Bom Pastor, surgiu o projeto premiado desenvolvido por Méllany Brigo Rieger e os colegas Marcus Vinícius da Silva Bezerra e Ana Clara Demori, todos com 18 anos.

A ideia dos estudantes da escola de Chapecó era conseguir colaborar com a recuperação de pacientes que tiveram Covid-19 e desenvolver um projeto de baixo custo e capaz de aumentar a capacidade pulmonar. O resultado do projeto foi o protótipo RPC19, que custa, em média, R$ 7,30. O projeto contou com uma fase de teste, com voluntários, e ainda vai passar pela validação de um grupo de pesquisadores dos cursos de Enfermagem e Medicina, do campus Chapecó da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS).

O professor Fortes conta que, enquanto as atividades estavam em modelo híbrido, durante a pandemia, incentivou os alunos a estudarem a matriz de risco de Santa Catarina. “Fomos em busca de informações, e os alunos fizeram a pesquisa. Este movimento rendeu um artigo, um protótipo acessível para a população e foi além: fez uma conexão entre a escola e a universidade”.

Para Méllany, o reconhecimento do projeto Soluções para a comunidade mostra que é possível fazer inovação no ambiente escolar também. “A partir de um desafio conseguimos desenvolver um projeto premiado, que pode ajudar as pessoas. Todo esse processo mudou muito a minha visão como estudante. Foi uma experiência incrível”, afirma Méllany. “Receber o prêmio, como Jovem Estudante Inovadora da Fapesc, me motiva ainda mais a seguir focada na pesquisa, no conhecimento e na educação”, finaliza a estudante premiada.