Grupo da UFSC estuda disseminação do HIV no sul do país

Um grupo de oito pesquisadores da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) estudou nos últimos dois anos a dinâmica de disseminação do HIV e suas rotas de dispersão na região Sul do Brasil. Eles caracterizaram a epidemia do HIV quanto aos subtipos que circulam pela região, gerando informações que vão auxiliar na escolha dos medicamentos antirretrovirais e que poderão ser utilizadas na saúde pública. Dados divulgados pelo Ministério da Saúde em dezembro de 2015 mostram que, apesar de a incidência de Aids no Sul ter se mantido estável nos últimos, a região ainda possui o maior índice de detecção a cada 100 mil habitantes: 31,1 casos, bem acima da média brasileira, com 20,5 casos/ 100 mil habitantes. Santa Catarina é 3º estado com a maior taxa de AIDS, atrás apenas do Amazonas e do rio Grande do Sul.
pesquisa hiv1 na regiao sul 3 edit
O estudo pode influenciar o direcionamento de campanhas públicas a públicos-alvo específicos para diminuir a transmissão do vírus e conter o avanço de novos casos, além de facilitar a identificação de fatores de risco ligados à infecção pelo HIV. “Investigações quanto à origem, disseminação e transmissão do HIV poderão garantir formas de beneficiar a saúde pública, caracterizando os principais pontos de transmissão, incluindo as cidades com importantes focos de disseminação, o comportamento de risco e a idade com o maior risco de infecção”, diz o coordenador da pesquisa, Aguinaldo Pinto.
O HIV é classificado em tipos, grupos, subtipos e formas recombinantes que se distribuem de maneira heterogênea na população mundial. No Brasil e na maioria dos países dos continentes americano e europeu, o HIV-1 subtipo B é o que predomina, no entanto, na região Sul existe alta prevalência do subtipo C, uma forma viral de alta incidência mundial e atualmente responsável por mais da metade das infecções por HIV no mundo. “A epidemia do HIV-1 no sul do Brasil é diferente do resto do país. Principalmente em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, mas também em menor escala no Paraná, o HIV-1 subtipo C é muito prevalente”, relata o professor.
boletim hiv ministério da saude
Os dados da pesquisa demonstram que a epidemia do HIV-1 subtipo C está em expansão pelo país, e seus dados são corroborados por outros estudos que encontraram uma crescente prevalência do subtipo também nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. “Acreditamos que nossa pesquisa chama a atenção para a ascensão dessa nova forma do HIV-1 no Brasil e também contribui para identificar grupos que podem ser alvos de campanhas de saúde para prevenir a rápida disseminação do subtipo C”, afirma Aguinaldo.
A principal contribuição da pesquisa está na identificação de grupos que podem ser alvos de campanhas de saúde para prevenir a rápida disseminação do subtipo C. “No estado de Santa Catarina observamos que a epidemia do HIV-1 apresenta dois padrões distintos. Pessoas heterossexuais se infectam mais frequentemente com o HIV-1 subtipo C, enquanto homens que fazem sexo com homens (HSH) são mais infectados pelo subtipo B”, explica o coordenador da pesquisa. Os resultados podem ser uma evidência de que o subtipo C esteja promovendo um crescimento maior da epidemia entre heterossexuais, podendo ser este um ponto de ação de campanhas de prevenção à AIDS. A segregação da epidemia está relacionada com o fato de heterossexuais e HSH comporem diferentes redes de transmissão do vírus que não se comunicam eficientemente. “Isso significa que no passado o subtipo B foi introduzido em uma rede HSH e o subtipo C em uma rede heterossexual, mantendo-se ‘separados’ até hoje”.
mapa expansao subtipo c
Os estudos em epidemiologia molecular, como o projeto coordenado pelo professor Aguinaldo, buscam descrever com mais detalhes o processo de disseminação de epidemias. Liderado pela UFSC, o estudo contou também com a participação de pesquisadores da FEPPS (Fundação Estadual de Pesquisa e Produção em Saúde – RS), permitindo o recrutamento de voluntários do interior gaúcho e catarinense para realizar a pesquisa. Ao todo participaram 300 voluntários, de 14 cidades, sendo 7 catarinenses: Criciúma, Blumenau, Itajaí, Chapecó, Joinville, Lajes e Florianópolis.
A pesquisa contou com apoio da FAPESC (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina), da Secretaria de Estado da Saúde e do Ministério da Saúde por meio do PPSUS, o Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde. O projeto foi selecionado na chamada de 2012, e está em fase de conclusão.
Este financiamento permitiu a formação de recursos humanos de excelência, uma vez que possibilitou a obtenção de reativos necessários para os experimentos realizados por diversos alunos”, relata o professor Aguinaldo. O pesquisador Tiago Graf, por exemplo, realizou sua tese de doutorado em um tema relacionado ao projeto, e conduziu parte das análises no Rega Institute, ligado à KU Leuven University, da Bélgica. O estágio na Bélgica, apoiado pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), permitiu que fosse realizada uma análise refinada das informações obtidas dos voluntários do estudo.
 
Por: Jéssica Trombini – Coordenadoria de Comunicação da FAPESC
 
 

Page Reader Press Enter to Read Page Content Out Loud Press Enter to Pause or Restart Reading Page Content Out Loud Press Enter to Stop Reading Page Content Out Loud Screen Reader Support