Estudo destaca lacunas entre cobertura jornalística e interesses da população de Florianópolis

Apresentação dos resultados da pesquisa da UFSC acontece no dia 23 de abril, às 14h, no Plenarinho da Alesc; em Florianópolis. O evento é gratuito e aberto à comunidade. (Foto: Leonardo Ferreira Barbosa / Fapesc)

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), mapeou os hábitos, interesses e percepções dos moradores de Florianópolis sobre o jornalismo local. O estudo foi contemplado no edital 38/2022 – Programa de Apoio à Fixação de Jovens Doutores no Brasil, da Fapesc e tem como foco a sustentabilidade, o engajamento e a participação na produção de informação jornalística de qualidade.

Entre maio e junho de 2024, foram realizadas 604 entrevistas com moradores da capital do estado, compondo uma amostra representativa da população da cidade. A coordenadora executiva da pesquisa é a pós-doutoranda Andressa Kikuti Dancosky, bolsista da Fapesc e o coordenador geral e idealizador da proposta é o professor Jacques Mick eles integram o Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC e contam com apoio de doutorandos dos programas de Jornalismo e de Sociologia Política.

O levantamento revelou que os temas mais valorizados pelos entrevistados são educação, cidadania, meio ambiente, saúde, alimentação e cultura. Esses mesmos assuntos foram mencionados como ausentes na cobertura jornalística local, o que indica uma lacuna entre o interesse da população e o que os veículos de mídia da cidade têm oferecido. Temas tradicionais como política e economia apareceram com menor destaque, o que surpreendeu a equipe, já que costumam ocupar espaço central no noticiário.

A pesquisa também investigou os motivos que levam as pessoas a consumir notícias — e, principalmente, a desistir delas. As respostas espontâneas foram organizadas em três grandes grupos. A principal razão para buscar informação está relacionada a interesses pessoais, seguida por motivações sociais, como o uso da notícia no trabalho ou na comunidade. Em terceiro lugar, aparecem os fatores ligados ao veículo, como formato ou clareza. Já os principais motivos de desistência foram, por ordem de importância: a cobrança de acesso ao conteúdo, a falta de confiança na fonte e o desinteresse pelo tema abordado.

Esses dados apontam desafios diretos para a sustentabilidade do jornalismo local. Quando perguntados se apoiariam a criação de uma taxa municipal para financiar notícias sobre sua cidade ou bairro, 70,2% dos entrevistados disseram que não. No entanto, ao serem questionados se estariam dispostos a discutir essa ideia com vizinhos e amigos, a rejeição caiu ligeiramente. Isso indica que há espaço para construção coletiva de alternativas, ainda que o apoio direto ao financiamento público ou pessoal da informação jornalística siga sendo baixo.

No campo do engajamento, o estudo identificou que, embora a população diga desejar mais proximidade com a mídia, há rejeição às formas tradicionais de participação, como comentar, compartilhar ou colaborar com os veículos. Muitas pessoas enxergam essas ações como atribuições exclusivas dos jornalistas, não como algo que elas próprias poderiam ou deveriam fazer. Para a equipe, esse distanciamento compromete a construção de um jornalismo mais democrático e conectado com os interesses da população.

A análise estatística revelou ainda variações significativas entre diferentes grupos sociais. Mulheres demonstraram mais interesse por temas como saúde, meio ambiente, cultura e bem-estar; homens se destacaram em esportes e economia. Jovens apresentaram menor interesse geral por notícias, enquanto o engajamento cresce nas faixas de 30 a 59 anos e tende a cair novamente a partir dos 60. Pessoas com ensino superior valorizam mais política, cidadania e cultura; quem tem até o ensino médio se conecta mais com conteúdos de entretenimento, celebridades e esportes. A renda também influencia: quem ganha mais se interessa mais por economia e política; nas faixas de menor renda, há mais interesse por saúde e temas ligados ao cotidiano.

O estudo está inserido em um cenário mais amplo de preocupação com os desertos e semidesertos de notícias — áreas com pouca ou nenhuma cobertura jornalística local. A ausência de informação próxima impacta negativamente a vida democrática, dificultando o acompanhamento de decisões políticas, a organização comunitária e a construção de identidades locais. Isso reforça a importância de fortalecer o jornalismo de proximidade e repensar seus modelos de financiamento, especialmente em tempos de crise da imprensa tradicional.

A continuidade da pesquisa está garantida por mais dois anos, também com apoio da Fapesc. As próximas etapas incluem o mapeamento de organizações da sociedade civil que atuam com informação e comunicação em Florianópolis, a realização de grupos focais com atores estratégicos e a criação de um laboratório social para discutir novos arranjos de produção e gestão jornalística. A ideia é testar modelos que não estejam submetidos exclusivamente à lógica empresarial, mas que explorem alternativas comunitárias, colaborativas ou sustentadas por políticas públicas.

Toda essa produção foi possível graças à concessão da bolsa de pós-doutorado e aos recursos de custeio obtidos por meio do Edital Fapesc nº 38/2022.

De acordo com a coordenadora executiva da pesquisa Andressa Kikuti Dancosky o apoio da Fapesc foi essencial para que esse projeto pudesse sair do papel, alcançar essa profundidade e gerar um modelo que inspire outras iniciativas no país.

“O fomento permitiu o desenvolvimento do projeto — da coleta e análise de dados à contratação de especialistas e à disseminação dos resultados em eventos científicos nacionais e internacionais”, frisa.

Os dados completos do estudo serão apresentados no próximo dia 23 de abril, às 14h, no Plenarinho da Assembleia Legislativa (Alesc). O evento é gratuito e aberto à comunidade.

A atividade tem como objetivo compartilhar os principais achados com a sociedade e promover um espaço de debate e reflexão sobre o tema. Durante o encontro, será apresentado o relatório final, que também ficará disponível para organizações civis, profissionais da mídia, pesquisadores e demais interessados.

Foram convidados os participantes que manifestaram interesse em acompanhar os resultados, além de representantes de entidades sociais e veículos de comunicação locais. A expectativa é que o encontro se transforme em um espaço de escuta ativa e construção coletiva, incentivando a população a contribuir com ideias e sugestões para as próximas etapas do projeto.

“Embora os resultados sejam específicos de Florianópolis, a metodologia desenvolvida poderá ser replicada em outras cidades brasileiras. Isso permitirá identificar o que há de único em cada local e o que pode ser generalizado, fortalecendo o jornalismo local em diferentes contextos”, conclui Andressa.

Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc)

Gizely Campos / gizely.campos@fapesc.sc.gov.br

Telefone: (47) 99104-6738

Page Reader Press Enter to Read Page Content Out Loud Press Enter to Pause or Restart Reading Page Content Out Loud Press Enter to Stop Reading Page Content Out Loud Screen Reader Support