Pioneiro no país, o Observatório da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) atua para dar suporte à competitividade da indústria e fomentar a cultura analítica orientada por dados em Santa Catarina

Por Dorzeli Salete Trzeciak e Julia Pitthan – Observatório Fiesc
Fotos Filipe Scotti – Fiesc

A Librelato fabrica, anualmente, mais de 13 mil unidades de implementos rodoviários. São reboques e semirreboques usados para transportar grãos, combustíveis e todo tipo de mercadoria pelas estradas do Brasil e do mundo. Os números garantem a essa empresa catarinense mais de 13% de market share, ou seja, o grau de participação de uma empresa em termos das vendas de um determinado produto no seu mercado de atuação, além da posição de terceira maior do segmento no Brasil e segunda maior exportadora do país.

Apesar do desempenho relevante, o desafio de acompanhar indicadores e traçar estratégias de crescimento é permanente. Por isso, a Librelato resolveu investir em um programa de cultura analítica em dados. “Buscamos estabelecer respostas para as perguntas estratégicas do nosso negócio e direcionar com maior assertividade a nossa tomada de decisão. Unificamos os dados estratégicos em uma única ferramenta criada de forma colaborativa com o Observatório Fiesc”, afirma o CEO da Librelato, José Carlos Sprícigo. O trabalho reuniu 21 profissionais da Librelato, que passaram por um treinamento de 60 horas. Delby Machado, coordenador de Inteligência de Mercado, Desenvolvimento de Rede e Precificação da empresa, conta que, durante a criação da plataforma de big data, foram coletados dados em órgãos oficiais como a Receita Federal, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e a Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir), cruzando com informações internas da organização.

“O Observatório apresentou soluções avançadas em técnicas de big data de extração, transformação, carga e visualização de informações, de forma a fornecer, em tempo oportuno, informações para a tomada de decisão”, destaca Machado. Depois do treinamento, a Librelato implementou um setor específico para tratar da cultura data driven. O sistema foi batizado de LibreData. Além de unificar as informações, Machado destaca que o programa permitiu à Librelato ter acesso a dados estratégicos em poucos cliques. “Se realizássemos a busca das informações de maneira tradicional, isso consumiria horas ou dias de análises, cálculos e estudos”, explica o coordenador.

Tomadas de decisões assertivas

A Librelato está entre as centenas de indústrias, governos e organizações que o Observatório Fiesc atendeu desde o início de sua trajetória.

Identificar onde estão e quem são os potenciais clientes e concorrentes, apontar tendências para desenvolver novos produtos e serviços e identificar os locais mais promissores para instalar uma nova unidade de produção estão entre as dores mais comuns que o Observatório costuma solucionar quando atende uma empresa.

Para isso, o Observatório Fiesc estabeleceu um fluxo de trabalho na lógica de um PDCA, uma metodologia conhecida da teoria da Administração que visa a melhoria contínua de processos. No Observatório, o método permite estabelecer um processo de inteligência em que P representa Pergunta, D Dados, C Compilação e A Análise.

“No nosso caso, é um processo de inteligência que começa com uma demanda. Para isso, elaboramos uma pergunta, que precisa ser clara e precisa. A partir daí, partimos para extrair os dados”, explica Eliza Coral. A equipe identifica se existem bases de dados públicas ou privadas que atendem à demanda ou se é preciso fazer algum tipo de pesquisa primária.

Na etapa posterior, da Compilação, ocorre a modelagem da resposta ao problema, que pode ser apresentada em um painel de inteligência de negócios, um gráfico, boletim ou estudo. Por fim, ocorre a análise dos resultados que irão, então, subsidiar a tomada de decisão.

Esse método estruturado de atendimento às demandas é resultado da trajetória acumulada, a partir da implementação de um dos primeiros Centro de Inteligência estruturados do país. Se a pandemia acelerou o processo de transformação digital nas organizações e hoje os investimentos em data driven e big data são uma realidade crescente, no passado, o cenário era outro. Para se ter uma ideia do crescimento da demanda por serviços deste tipo, conforme pesquisa da International Data Corporation (IDC), os gastos mundiais com soluções de big data e business analytics (BDA) até 2025 devem crescer, anualmente, 12,8%. Mas há uma década, a Fiesc já despertava para a importância estratégica de construir uma
cultura em dados.

Trajetória do Observatório Fiesc

O Observatório Fiesc foi um dos pioneiros no Brasil na difusão de técnicas de big data e na construção de uma sala de situação. Em 2012 foram estabelecidas as primeiras pesquisas que permitiram à entidade sedimentar as bases desse trabalho, com o lançamento do Programa de Desenvolvimento Industrial Catarinense (PDIC) 2022. A área de planejamento da Fiesc iniciou o PDIC com a identificação dos segmentos industriais com maior potencial de desenvolvimento em longo prazo, com foco nas seis mesorregiões catarinenses.

Porém, a implantação da sala de situação e o lançamento do portal setorial da Fiesc na versão 1.0 ocorreram em 2015. Essas ações foram os marcos que oficializaram a constituição do Observatório Fiesc. A partir daí, passaram a ser disponibilizados indicadores, estudos socioeconômicos e de tendências à sociedade catarinense. O portal reúne essas informações, que podem ser acessadas online em diferentes plataformas – de um smartphone a um videowall.

“A Fiesc é uma das primeiras federações no país na criação de um centro de inteligência estruturado. Ao lado das federações do Paraná e do Ceará, instituímos um know how em inteligência analítica que nos credenciou a fazer parte do grupo de implementação do Observatório Nacional”, afirma a gerente do IEL/SC, Eliza Coral.

Essa iniciativa, liderada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), consiste na formatação de um modelo de trabalho em rede, com suporte na construção das metodologias e da infraestrutura tecnológica para o centro de inteligência que irá atender a CNI e servirá de apoio ao desenvolvimento de outros observatórios no país. A Fiesc também apoiará na carga de dados no ambiente de big data do Observatório Nacional. “A partir de um modelo de inovação aberta, vamos colaborar com o compartilhamento de dados, informações e competências para dar suporte a outros observatórios do país e contribuir com a cultura analítica em dados”, complementa.

“A indústria é o motor do desenvolvimento da economia no Estado. Contribuímos com 34% dos empregos gerados em Santa Catarina e 26,6% do PIB estadual. Essas informações são estratégicas e estão disponíveis graças ao nosso trabalho com dados”, afirma o presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar.

“O Observatório Fiesc está estruturado como uma plataforma de inteligência útil para a gestão estratégica de governos, organizações e empresas. É uma ferramenta de apoio à competitividade das indústrias, com suporte para a tomada de decisão estratégica do empresário”, complementa Aguiar.

Tecnologia big data e equipe multidisciplinar

Outro ativo importante do Observatório Fiesc é a equipe multidisciplinar. Formado por analistas e cientistas de dados, economistas e especialistas em inteligência industrial, o time dá suporte aos projetos desenvolvidos pelo centro. Em Santa Catarina, a Fiesc também contribuiu para a cultura em dados. Em parceria com o Sebrae/SC, atuou para estruturar o Observatório de Negócios da instituição, focado no ambiente dos pequenos negócios catarinenses.

Outras iniciativas estão surgindo no Estado. Em 2022, a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) anunciou um edital para destinar R$ 1,8 milhão voltados à realização de pesquisas aplicadas por Observatórios de Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) em todo o Estado. Esses recursos são destinados para mapeamento de diferentes indicadores, criação de plataforma para disponibilização de dados e compartilhamento de informações públicas.

O presidente da Fapesc, Fábio Zabot Holthausen, destaca que para avançar nas ações de CTI é preciso ter dados estaduais e regionais para ajudar tanto a iniciativa privada quanto governos e órgãos públicos na tomada de decisões e investimentos. “As Instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTs) têm criado observatórios para fazer mapeamento de informações e desenvolvimento de ações para análise de dados”, explica. “A ideia é que possamos apoiar um observatório em cada mesorregião e conectá-los, utilizando toda essa competência para termos dados assertivos e em tempo real. Essas informações estarão disponíveis em plataformas para todas as pessoas”, completa.

Futuro e tendências em SC

Além de atuar em produtos e soluções que ajudam as empresas e organizações a ler o cenário e a tomar decisões, o Observatório Fiesc já está desenvolvendo projetos que permitam prever o futuro. Por isso, está investindo em técnicas de análise preditiva e estruturando monitoramento de tendências dos principais setores da indústria catarinense. Há também a frente de criação de um agente inteligente, a Central de Inteligência Natural e Artificial, a Ciana. Ela será responsável por interagir com o público no laboratório de experiências do Observatório, instalado na sede da Fiesc, em Florianópolis. O ambiente será um espaço de pesquisa e desenvolvimento de novas soluções. Na apresentação, a personagem vai expor informações da indústria e da economia catarinense.

Todas essas iniciativas têm foco em ampliar a competitividade da indústria e da economia catarinense. “O objetivo é buscar patamares cada vez mais elevados de desenvolvimento da indústria. Com informação e inteligência, somos capazes de construir as bases para o crescimento sustentável a longo prazo”, afirma o diretor de inovação e competitividade da Fiesc, José Eduardo Fiates. Um dos exemplos desse trabalho foi o lançamento do Programa Travessia, iniciativa que trouxe propostas para auxiliar as empresas a atravessar o momento de crise.

Agora, ele passa a se chamar Reinventa-SC, um projeto que quer integrar empresas de todo o Estado, com foco inicial em setores como madeira e móveis, alimentos e bebidas, têxtil e vestuário e metalmecânico. São instrumentos como esses que vão permitir pavimentar o futuro de Santa Catarina. Afinal, como propõe o slogan do Reinventa-SC, “o impossível não existe”. No entanto, vamos realizá-lo com inteligência e trabalho.