Conclusões de pesquisas podem ser aplicadas no SUS após avaliação de experts

A transmissão e disseminação do HIV no sul do Brasil será o primeiro tema a ser abordado no seminário de avaliação final de projetos em desenvolvimento há 4 anos no âmbito do PPSUS (Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde). O estudo é um dos 6 que serão apresentados a partir das 9h30 de quarta-feira (7 de dezembro) no auditório do CELTA, onde funciona a FAPESC (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina). Outros 6 estarão em pauta no dia seguinte (8 de dezembro), no evento que terá representantes de todos os apoiadores do PPSUS, incluindo FAPESC, Secretaria de Estado da Saúde, CNPq e do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde.
Para aplicação de epidemiologia molecular na saúde pública no que se refere ao vírus causador da Aids, um grupo de oito pesquisadores da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) estudou a dinâmica de disseminação do HIV e suas rotas de dispersão nos estados sulinos. Eles geraram informações que vão auxiliar na escolha dos medicamentos antirretrovirais e que poderão ser utilizados no SUS.
O estudo pode influenciar o direcionamento de campanhas públicas a públicos-alvo específicos para diminuir a transmissão do vírus e conter o avanço de novos casos, além de facilitar a identificação de fatores de risco ligados à infecção pelo HIV. “Investigações quanto à origem, disseminação e transmissão do HIV poderão garantir formas de beneficiar a saúde pública, caracterizando os principais pontos de transmissão, incluindo as cidades com importantes focos de disseminação, o comportamento de risco e a idade com o maior risco de infecção”, diz o coordenador da pesquisa, Aguinaldo Pinto.
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde em dezembro de 2015 mostram que, apesar de a incidência de Aids no Sul ter se mantido estável nos últimos, a região ainda possui o maior índice de detecção a cada 100 mil habitantes: 31,1 casos, bem acima da média brasileira, com 20,5 casos/ 100 mil habitantes. Santa Catarina é 3º estado com a maior taxa de AIDS, atrás apenas do Amazonas e do Rio Grande do Sul.
 
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O HIV é classificado em tipos, grupos, subtipos e formas recombinantes que se distribuem de maneira heterogênea na população mundial. No Brasil e na maioria dos países dos continentes americano e europeu, o HIV-1 subtipo B é o que predomina, no entanto, na região Sul existe alta prevalência do subtipo C, uma forma viral de alta incidência mundial e atualmente responsável por mais da metade das infecções por HIV no mundo. “A epidemia do HIV-1 no sul do Brasil é diferente do resto do país. Principalmente em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, mas também em menor escala no Paraná, o HIV-1 subtipo C é muito prevalente”, relata o professor.
Os dados da pesquisa demonstram que a epidemia do HIV-1 subtipo C está em expansão pelo país, e seus dados são corroborados por outros estudos que encontraram uma crescente prevalência do subtipo também nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. “Acreditamos que nossa pesquisa chama a atenção para a ascensão dessa nova forma do HIV-1 no Brasil e também contribui para identificar grupos que podem ser alvos de campanhas de saúde para prevenir a rápida disseminação do subtipo C”, afirma Aguinaldo.
A principal contribuição da pesquisa está na identificação de grupos que podem ser alvos de campanhas de saúde para prevenir a rápida disseminação do subtipo C. “No estado de Santa Catarina observamos que a epidemia do HIV-1 apresenta dois padrões distintos. Pessoas heterossexuais se infectam mais frequentemente com o HIV-1 subtipo C, enquanto homens que fazem sexo com homens (HSH) são mais infectados pelo subtipo B”, explica o coordenador da pesquisa. Os resultados podem ser uma evidência de que o subtipo C esteja promovendo um crescimento maior da epidemia entre heterossexuais, podendo ser este um ponto de ação de campanhas de prevenção à AIDS. A segregação da epidemia está relacionada com o fato de heterossexuais e HSH comporem diferentes redes de transmissão do vírus que não se comunicam eficientemente. “Isso significa que no passado o subtipo B foi introduzido em uma rede HSH e o subtipo C em uma rede heterossexual, mantendo-se ‘separados’ até hoje”.
Liderado pela UFSC, o estudo contou também com a participação de pesquisadores da FEPPS (Fundação Estadual de Pesquisa e Produção em Saúde – RS), permitindo o recrutamento de voluntários do interior gaúcho e catarinense para realizar a pesquisa. Ao todo participaram 300 voluntários, de 14 cidades, sendo 7 catarinenses: Criciúma, Blumenau, Itajaí, Chapecó, Joinville, Lajes e Florianópolis.
“O financiamento do PPSUS permitiu a formação de recursos humanos de excelência, uma vez que possibilitou a obtenção de reativos necessários para os experimentos realizados por diversos alunos”, relata o professor Aguinaldo. O pesquisador Tiago Graf, por exemplo, realizou sua tese de doutorado em um tema relacionado ao projeto, e conduziu parte das análises no Rega Institute, ligado à KU Leuven University, da Bélgica. O estágio na Bélgica, apoiado pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), permitiu que fosse realizada uma análise refinada das informações obtidas dos voluntários do estudo.
Desde sua criação, em 2003, este programa nacional do CNPq apoiou mais de 2 mil projetos no Brasil e mais de 200 em Santa Catarina, todos acompanhados por meio de seminários de avaliação promovidos durante a realização das pesquisas e ao término delas.
Fonte: Coordenadoria de Comunicação da FAPESC
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