Os dedos de Enzo Zaquini atuam tão rápido quanto seus pensamentos e substituem as dificuldades do menino na produção de sons. Durante a maior parte dos seus dez anos de vida, Enzo quase não podia se comunicar. Há cerca de dois meses, com a criação de um aplicativo produzido especialmente para ele, é com rapidez que Enzo usa a tecnologia como aliada para uma atividade rotineira: explicar o que sente, pensa, precisa e quer.
O programa de computador foi elaborado pelo mestre em computação aplicada de Joinville, Andrei Carniel, com orientação da professora Carla Berkenbrock, durante o mestrado do jovem na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), e é um facilitador do dia a dia da criança. O projeto de Andrei recebeu auxílio da FAPESC (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina).
Enzo tem diagnóstico de apraxia de fala relacionada à encefalopatia crônica não evolutiva. Isso quer dizer que o menino sabe muito bem o que quer dizer, mas seu cérebro tem problemas para programar as sequências dos movimentos motores da fala.
– Ele tem uma linguagem própria e, em casa, a gente entende o que ele fala por causa da convivência. Na escola, os professores foram se adaptando, mas ele ainda não conseguiu ser alfabetizado, por exemplo – conta a mãe, Jane Klitzke.
Segundo a fonoaudióloga que o acompanha no Núcleo de Assistência Integral ao Paciente Especial (Naipe), Tatiane Dominoni Rodrigues, a dificuldade de ser compreendido leva Enzo a ser uma criança impaciente e irritada, principalmente na convivência com os colegas da escola. Mas é com animação, como um menino com seu jogo de videogame preferido, que Enzo assumiu a comunicação alternativa proporcionada pelo aplicativo criado por Andrei. Por meio dele, basta alguns cliques no tablet e ele pode informar o que deseja para lanchar, por exemplo, ou se está se sentindo triste.
O aplicativo foi criado a partir de pesquisas e contatos com especialistas da área da saúde mental depois que a terapeuta ocupacional do Naipe, Luciana Correa, comentou com a professora Carla sobre a necessidade de parcerias entre os campos da tecnologia e da saúde. Andrei, que iniciava o mestrado em computação aplicada, assumiu a responsabilidade e, a partir do contato com Enzo, foi possível detectar os fatores mais importantes e o modelo de comunicação mais adequado para utilizar com o menino.
– É necessário o desenvolvimento multidisciplinar aliado à parte técnica. Para isso, também participei de grupos de discussão do mestrado de educação da Univille – explica Andrei.
Os cartões de comunicação de papel que já eram usados por Enzo tornaram-se ¿virtuais¿, garantindo que as sentenças criadas com eles sejam formadas muito mais rapidamente. O aplicativo também utiliza textos e sons que reafirmam o que as imagens mostram.
Com isso, o menino tem um incentivo a mais para tentar, pouco a pouco, articular as palavras – no último encontro entre Enzo e Andrei, ele falou corretamente a palavra “pinhão”, que pode começar a pedir desde que o alimento entrou para o grupo de figuras do aplicativo.
– O tablet ajudou, principalmente, no aprendizado dos números. Além disso, agora ele fica tentando imitar os sons das palavras que escuta nele, algo que não fazia ao nos ouvir falando – diz a mãe.
A expectativa é que, em um futuro próximo, a Udesc crie um projeto de extensão para trabalhar na criação de outras iniciativas que beneficiem pacientes do Naipe. Para isso, a professora Carla prevê parcerias semelhantes às que ocorreram na criação deste software, reunindo diferentes áreas.
– A computação deve ser vista como um meio. Só com ela, a gente não consegue entender o contexto do usuário, não pode entender as limitações e, principalmente, as potencialidades do paciente – afirma.
Fonte: ClicRBS (Com alterações da FAPESC)