“A inovação é um fator de  competitividade  importante para a  economia de SC”

Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcelo Fett, conta em detalhes como está estruturada a nova secretaria estadual e o que a população pode esperar da pasta inédita em Santa Catarina

Por Júlia Antunes Lorenço
Secom
julia.antunes@secom.sc.gov.br

Pela primeira vez, Santa Catarina terá uma Secretaria de Estado dedicada exclusivamente para o desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI).

Criada na reforma administrativa da atual gestão do governo, a pasta tem como papel articular o poder público com o setor, desenvolver inovação no Estado, tanto na esfera governamental quanto nos serviços prestados à população, e usar o ecossistema de CTI para alavancar ainda mais o desenvolvimento econômico catarinense. 

À frente do desafio inédito está Marcelo Fett, nome indicado pela Associação Catarinense de Tecnologia (Acate). 

Com atuação na área, o Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação traz como experiência passagens no setor privado e público. A seguir, confira a entrevista do secretário para a Revista Fapesc – Ciência, Tecnologia e Inovação em Santa Catarina.

Por que criar uma Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação em Santa Catarina?

Primeiro, porque a inovação é um fator de competitividade muito importante para a economia de Santa Catarina. Inovação gera produtividade, competitividade, emprego melhor, salário melhor, que no final das contas gera desenvolvimento como um todo. Inovação é um pilar importante do desenvolvimento econômico no Estado. 

Segundo, porque a inovação por si só é uma grande política social. Quando você vê que a remuneração média do setor de tecnologia é, pelo menos, duas vezes a remuneração média do trabalhador catarinense, já percebe que ela tem a capacidade de trazer um impacto social grande. 

Em terceiro lugar, porque ciência, tecnologia e inovação são responsáveis por resolver os grandes problemas da sociedade. A questão do aumento da expectativa de vida, por exemplo, boa parte disso é fruto de investimentos feitos em medicina, na melhoria dos alimentos, enfim, na qualidade de vida, por isso podemos observar que existe muito destas áreas, ciência, tecnologia e inovação, na melhoria da vida das pessoas.

Por último, o setor de tecnologia de Santa Catarina, atualmente, representa 6% do PIB. Ou seja, são cerca de 60 mil empregos e uma massa salarial de mais de R$ 3 bilhões. Isso significa que são 17 mil empresas que geram faturamento de R$ 20 bilhões. Por esses quatro pontos destaco como é importante ter uma Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação abrangendo estas áreas.

O setor de tecnologia de Santa Catarina, atualmente, representa 6% do PIB. Ou seja, são cerca de 60 mil empregos e uma massa salarial de mais de R$ 3 bilhões. Isso significa que são 17 mil empresas que geram faturamento de R$ 20 bilhões.

Marcelo Fett

E essa Secretaria existe em outros estados? Temos iniciativas assim?

Existe em outros estados, em boa parte deles. O que muda de um estado para outro são as funções da Secretaria. Algumas são voltadas mais para a solução dos problemas da gestão pública, em outras há mais o compromisso de fomentar ciência e tecnologia como pilar de desenvolvimento. As atribuições podem variar um pouco. 

E quais são as atribuições em Santa Catarina? Na apresentação da Reforma Administrativa da gestão atual ficou claro que seria uma pasta para atrair investidor interno e externo? Como isso vai acontecer?

Primeiro, entendendo a estrutura da Secretaria. A SCTI de Santa Catarina terá dois pilares de atuação: o primeiro é no planejamento de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento econômico pela inovação. O segundo pilar é o estado consumidor dessas tecnologias como forma de melhoria da prestação de serviço público, seja dos serviços internos, como redução da burocracia, da simplificação de processos, seja naquelas secretarias finalísticas. O que a gente pode levar de tecnologia para a Secretaria de Estado da Saúde e para as Secretarias da Educação, Segurança Pública, Mobilidade, Defesa Civil e assim sucessivamente.

Então são dois pilares. Dentro do pilar de desenvolvimento econômico pela inovação, temos dois grandes desafios na questão de atração de investimentos. Temos necessidade de trazer investimentos para o financiamento de inovação no Estado, por meio de projetos, captação de recursos junto ao BNDES e Finep. Envolve criação de mecanismos dentro do arcabouço jurídico do Estado, permitindo que as empresas também possam participar desses investimentos, ajudando a desenvolver o setor catarinense. 

Além dessa frente, tem outra que é trazer empresas para Santa Catarina. Cada uma dessas frentes de atração de investimento, seja para financiamento da ciência, tecnologia e inovação, seja trazer empresas, têm dinâmicas próprias. São situações bem distintas, mas dentro do planejamento da Secretaria, nesse pilar do desenvolvimento econômico pela inovação, a gente tem ali um papel específico para tratar sobre atração de investimento. 

Foto: Cristiano Andujar/Arquivo/Secom

Como a criação da SCTI impacta as pessoas que vivem em Santa Catarina?

Isso é um dos grandes porquês de se criar a pasta. Qual o propósito da Secretaria? E para entender o propósito, as pessoas precisam compreender como aquilo pode melhorar a vida delas, como isso realmente impacta. Aí sim ela começa a enxergar valor, e assim aumentamos a massa de pessoas que entendem a importância da ciência, tecnologia e inovação e isso fortalece inclusive as instituições que atuam nesse setor. Fortalece a Secretaria e o Governo do Estado de Santa Catarina.

O governador Jorginho sempre diz o seguinte: investir em ciência, tecnologia e inovação vai valer a pena no momento em que um paciente for curado por uma tecnologia financiada por esse arcabouço de CTI do Estado. E como pode impactar? Melhorando o entendimento sobre a área da saúde, seja por meio da telemedicina, agilizando procedimentos e exames. Além disso, impacta na gestão da saúde, para que possa sobrar mais investimentos na atividade finalística. 

Na questão da educação, pode levar formação complementar e tecnologia para dentro das escolas. Impacta na simplificação de processos para empreendedores, para não ficar preso a uma burocracia que hoje dificulta o desempenho das atividades deles, e ao dificultar o empreendedorismo, você não gera emprego. 

De modo geral, essas são as principais formas, de maneira didática, da ciência, tecnologia e inovação impactarem na vida das pessoas. 

Diante de tanta atribuição importante para a pasta, o Estado então demorou para criar essa Secretaria?

Bom, antes tarde do que nunca, né? O governador Jorginho foi realmente visionário, quando enxergou pela primeira vez na história a importância de dar protagonismo e ter uma estrutura dedicada ao fomento da ciência, tecnologia e principalmente da inovação de Santa Catarina. Realmente foi uma atitude visionária.

Outro desafio que tem se imposto ao setor de TI é a manutenção de mão de obra qualificada em Santa Catarina. A SCTI também vai atuar neste aspecto?

Sim. Olha que interessante, uma das frentes de atuação da Secretaria é justamente a questão da formação de competências técnicas e socioemocionais para essa nova economia. Isso é um grande gargalo. Esse ano temos aproximadamente 6, 7 mil vagas abertas, e devemos chegar em torno de 20 mil vagas abertas. O que acontece? A gente precisa formar essa mão de obra para atender essa demanda. À medida que começarmos a aumentar a maturidade do nosso ecossistema e as empresas conseguirem pagar mais, dado que Santa Catarina é um Estado com muita qualidade de vida, a tendência dessas pessoas irem trabalhar em outras empresas, de outros estados ou de outros países, é diminuir. 

A nossa estratégia é que, a partir das demandas dessas empresas, possamos garantir um programa de empregabilidade, para montar uma jornada de formação de competências técnicas e socioemocionais que vão atender a demanda eminente, mas que também vão formar nos jovens aquelas soft e hard skills, que a gente chama da nova economia. 

E que assim, ele possa trabalhar aqui: no ambiente que tenha boas empresas, ou seja, com maturidade dentro do nosso ecossistema, que possam pagar a remuneração necessária em um estado com qualidade de vida.

Uma das frentes de atuação da Secretaria é justamente a questão da formação de competências técnicas e socioemocionais para essa nova economia. Isso é um grande gargalo. Esse ano temos aproximadamente 6, 7 mil vagas abertas, e devemos chegar em torno de 20 mil

Marcelo Fett

Por tudo que foi apresentado, a Secretaria precisa se articular com o setor. Esse trabalho já começou?

Além de se articular com o setor, a gente precisa se articular muito com as universidades, as unidades formadoras da mão de obra do terceiro setor, mas principalmente com o setor produtivo. Um dos nossos focos é que os investimentos em ciência, tecnologia e inovação prioritariamente sejam canalizados para o que a gente chama fator crítico de produção, que é fazer com que esses investimentos possam se aproximar do setor produtivo existente, dos setores tradicionais da economia, como forma de: um lado melhorar essa maturidade do ecossistema, agregar valor ao setor de tecnologia e por outro lado aumentar a competitividade de Santa Catarina como um todo.

A Fapesc está sob o guarda-chuva dessa nova secretaria. Qual vai ser o papel da Fundação no governo atual?

Estamos andando próximos da Fapesc. Eu e o Fábio [Fábio Wagner Pinto, presidente da Fundação] temos conversado bastante, porque a Fapesc é um braço importante de execução das políticas públicas de fomento da ciência e tecnologia. O que a gente planeja aqui dentro da Secretaria tem que estar, necessariamente, alinhado com a Fapesc, enquanto agente executor dessas políticas públicas. Essa dobradinha é fundamental para dar certo.

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