O doutor em geociências pela Universidade de São Paulo (USP), Luiz Fernando Scheibe, hoje aposentado pela UFSC, onde segue prestando serviços voluntários na área de pesquisas, alertou que o Brasil ainda não tem estudos científicos que garantam a segurança da exploração do gás de xisto, sem afetar o meio ambiente e, principalmente, o lençol freático e os aquíferos do país. A manifestação ocorreu em um debate, na última semana, no Centro de Estudos e Debates Estratégicos, da Câmara dos Deputados.
“Articulamos com o deputado federal Pedro Uczai a realização desse debate porque, quando tivemos acesso aos dados do estudo do professor Luiz Fernando, observamos um risco claro. Nos preocupa muito porque isso significa comprometer reservas de água que são estratégicas”, afirmou o presidente do Fórum Permanente para Preservação do Aquífero Guarani e das Águas Superficiais, deputado Padre Pedro Baldissera.
O objetivo, conforme o parlamentar, é evitar o início da exploração de gás de xisto no Brasil por cinco anos, devido aos riscos ao meio ambiente.
Também chamado de “gás não convencional”, esse produto é extraído de folhelhos, uma rocha sedimentar impermeável que é fraturada por meio do bombeamento hidráulico. O Brasil pretende produzi-lo para suprir a demanda crescente por gás natural, e as reservas do país podem chegar a 500 trilhões de pés cúbicos, maiores do que as do pré-sal.
A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) já marcou o primeiro leilão de blocos de gás de xisto para o fim de outubro, em bacias de rios como o Paraná e o Parnaíba.
Ausência de estudos científicos
“A questão não é tanto do gás em si, já que é um gás praticamente igual ao gás natural que a gente já usa, mas o tipo de exploração, que envolve quantidades imensas de água. E essa água, quando volta à superfície, está muito poluída”, avisa o cientista.
Segundo ele, “as técnicas de despoluição dessa água custam caríssimo e ainda não há clareza do que seria feito com todo o imenso volume de água contaminada, poluída”. Scheibe sugere o que ele chama de “moratória” de cinco anos até que cientistas aprofundem o conhecimento dessa exploração.
“O Brasil tem gás suficiente para as suas necessidades. Deve-se adotar o princípio da precaução. Entrar nisso seria uma aventura”, acrescenta Scheibe. Ele lembra ainda que grande parte da reserva está na Bacia do Paraná, na mesma região do Aquífero Guarani. “A poluição desse aquífero seria desastrosa.” Segundo Scheibe, os custos da exploração são relativamente baixos nos EUA. Já na Europa, são mais caros por causa da legislação ambiental.
Grupo de trabalho
O deputado federal Pedro Uczai defende a criação de um grupo de trabalho integrado pela ANP, Petrobras e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência a fim de analisar a questão do ponto de vista estritamente científico, sem pressões econômicas.
Coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, o deputado Sarney Filho concorda com a “moratória” de cinco anos: “O gás de xisto reconhecidamente produz poluição nos aquíferos. Nós temos o Guarani, que é um dos maiores aquíferos do mundo. Temos, recém-descoberto, o maior aquífero do mundo, debaixo de toda a Amazônia. Será que o Brasil precisa disso? O Brasil tem o petróleo do pré-sal, potencial hidrelétrico, potencial solar, potencial eólico. Fazer um leilão sem que a gente tenha noção dos estudos realizados é muito afoito e perigoso.”
Fonte: Cássio Turra
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