O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva, falou sobre o futuro da ciência durante o Colloquium diei
O evento foi realizado no Auditório Prof. Sérgio Mascarenhas do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), na última sexta-feira (29/06).
Durante sua palestra intitulada “Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional”, Oliva fez uma retrospectiva da sua carreira como pesquisador e docente do IFSC e, em seguida, apresentou dados comparativos sobre a evolução da ciência no Brasil nas últimas seis décadas. Segundo Oliva, nos anos 50, “havia poucos cientistas no Brasil, o ambiente de pesquisa dentro das Universidades era quase inexistente e a cultura de inovação nas empresas não era sequer cogitada”.
Atualmente o cenário é outro, com considerável aumento da produção científica e da formação de mestres e doutores no país. Números registrados pelo CNPq revelam que, em 2010, já havia 27.523 grupos de pesquisa instituídos no país nas diversas áreas do conhecimento; o número de publicações científicas aumentou em cerca de 11% ao ano e ocorreu o incremento da oferta de cursos de mestrado e doutorado por instituições de ensino superior. “Observamos que a pós-graduação é o motor para o crescimento da pesquisa brasileira”, afirmou o presidente do CNPq.
Com base em dados levantados pelo CNPq e pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Glaucius Oliva destacou o aumento no número de cidadãos portadores de diploma de nível superior no Brasil e completou: “O ensino básico brasileiro, a meu ver, é o maior desafio para uma melhoria da qualidade da educação, pois só através de investimentos na educação básica será possível reter os estudantes nas escolas até o final”.
Ciência sem Fronteiras – Um dos destaques da palestra foi o programa Ciência sem Fronteiras (CSF), que foi lançado pelo Governo Federal, em 2011. O programa busca promover a consolidação, a expansão e a internacionalização da ciência e da tecnologia brasileiras por meio do envio de estudantes brasileiros aos países parceiros no exterior, com todas as despesas pagas, e do recebimento de jovens de outros países para estudar em universidades brasileiras. Serão fornecidas, aproximadamente, 100 mil bolsas de estudo.
Além dos recursos governamentais, diversas empresas brasileiras estão apoiando o CSF com o financiamento de bolsas de estudo, entre elas a Petrobrás, a Eletrobrás e a Vale. Oliva contou, ainda, que “há empresas internacionais interessadas em participar do programa, com o financiamento de bolsas de estudo. Uma delas, a British Gas, na ocasião da Rio+20, já firmou um acordo com o Governo Brasileiro para tal propósito”.
Desafios para a Ciência – O professor Glaucius Oliva falou sobre os desafios que devem ser enfrentados para o aprimoramento da pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico no Brasil e propôs algumas soluções: “Pesquisadores devem preocupar-se mais com a qualidade, o impacto e a relevância dos artigos científicos publicados. O foco das pesquisas deve ser voltado aos problemas nacionais e a melhoria na comunicação dos centros de pesquisa e universidades com a sociedade é um ponto que deve ser atentamente analisado.”
Outro área que carece de investimentos é a ciência aplicada. “Apenas 5% dos doutores brasileiros em pesquisa trabalham em empresas, no Brasil. Nos Estados Unidos (EUA), o percentual de pesquisadores que trabalham em empresas sobe para 40%. Para alterar esse quadro, algumas empresas nacionais inauguraram centros de pesquisa dentro das universidades. Isso já foi feito pela Embraer, Petrobrás e Embrapa”, disse Oliva.
O presidente do CNPq falou sobre a necessidade de ampliar o número de pesquisadores para o país ter melhores condições de competir mundialmente nas áreas de desenvolvimento científico e tecnológico. Segundo Oliva, dados da Capes indicam que “o número de patentes brasileiras, quando comparado ao de outros países do globo, é baixíssimo. O número de pesquisadores por milhões de habitantes, no país, fica muito aquém da média mundial. Suíça, Alemanha, Canadá e EUA formam muito mais doutores que o Brasil.”
Ao final, Oliva se mostrou otimista e disse acreditar na capacidade de superação do país e da população brasileira. “Estamos atingindo um ponto de maturidade na ciência brasileira, uma vez que estamos buscando melhorar a qualidade de tudo o que está sendo produzido aqui”, concluiu.
Fonte: CONFAP