Artigo de Mônica Cristina Correa
Especial para o ND
O filósofo francês Paul Virilio,
em 1998, alertava
em seu livro “A bomba
informática”, que o século
XXI seria a “era das catástrofes”
porque as proporções dos
acidentes iriam beirar tragédias e
estas seriam compartilhadas globalmente
graças aos meios de comunicação
instantânea e à transmissão
simultânea de imagens.
O recentíssimo naufrágio da nau
italiana Costa Concórdia, manchete
em jornais no mundo, pode
ser uma amostra, pois desperta a
atenção pelo número de pessoas
a serem resgatadas: em torno de
4.200. Não longe da praia e dispondo
de grandes recursos para
salvamento, o acidente não escapou
à atmosfera trágica pelo fato
de envolver muita gente de uma
só vez. E deixa à deriva, literalmente,
a pergunta: como lidar
com o transporte contemporâneo,
cuja tendência é levar cada
vez mais pessoas?
Numa coisa, Virilio tinha incontestável
razão: os meios de
transporte, tornando-se muito
possantes, também se tornam
“bombas” que podem destruir
muitas vidas ao
mesmo tempo. Ele
previa que aviões com 1.000 passageiros
seriam fabricados e um
crash com um aparelho desses
faria jus a suas proporções gigantescas.
O que era uma projeção
na época do lançamento do livro
já se torna realidade. Felizmente,
porém, as tragédias tendem a
rarear, porque os dispositivos de
segurança também se desenvolvem
continuamente.
Aéropostale
Um modelo de avião imaginado
por Virilio está em cadeia
de montagem em seu país natal.
Trata-se do A-380, da Airbus,
aparelho capaz de transportar
de 550 a 870 passageiros. Suas
proporções são capazes de deixar
boquiabertos os mais familiarizados
com a aviação. Foi o que
se deu com uma delegação
presente à chamada
capital europeia do ar e
do espaço, Toulouse, no
sul da França, em visita
à Airbus. A delegação
se compunha de representantes
das cidades
de três continentes (Europa,
África e América do Sul) que
um dia foram escala da empresa
de correio aéreo francesa, a Aéropostale
(1918-1931), nos primórdios
da aviação civil. A convite da
Prefeitura de Toulouse, sede da
Aéropostale (então Latécoère), as
cidades assinaram convênio para
a constituição de um patrimônio
imaterial e material da linha que tinha
em seu quadro de funcionários
pilotos como Saint-Exupéry, Mermoz
e Guillaumet, entre outros.
Se um dia esses homens foram
– legitimamente – tidos
como intrépidos porque voaram
em aviões precários e enfrentaram
intempéries confrontando
toda sorte de dificuldades, a capital
de que partiram demonstra
hoje que seus esforços não foram
em vão: a tecnologia e os esforços
tornaram Toulouse um
exemplo da capacidade
humana em aprimorar
máquinas. É o que a
delegação internacional
testemunhou também
em sua visita à “Cité
de l’Espace”, “museu”
e planetário ao mesmo
tempo, onde é possível
adentrar naves que já
estiveram em órbita no espaço
sideral. Na cadeia
de montagem do
A-380, orgulho
da
Airbus e da cidade, foi possível
constatar o gigantismo do avião e
perceber o que é sua montagem,
denominada “assemblage”, ou
seja, “ajuntamento”. De fato, as
peças chegam por meios fluviais
e terrestres, ou mesmo aéreos, de
procedências diferentes (Alemanha,
Espanha e Reino Unido), demandando
uma logística própria.
Afinal, são 73 metros de comprimento
e uma altura de 24,10m.
O futuro
Esse modelo concebido como
concorrente do Boing-747 e com
apoio da União Europeia deve ser
o futuro em matéria de transporte
aéreo, conforme deixam pensar
algumas de suas características:
transporta mais e consome
menos, faz menos barulho e libera
menos poluente. Hoje, apenas
63 exemplares estão em uso, mas
243 estão em fabricação. Sabe-se
que o sucesso de um modelo depende
da satisfação das necessidades
das companhias. E quais
encomendam um aparelho que
custa US$ 235 milhões, com asas
de 50 toneladas, é pintado à mão
e tem um tamanho que nem todo
aeroporto comporta? Quase todas,
pois o modelo providencia
mais conforto aos passageiros
e menos agressão ao meio-ambiente.
Só isto já faria do A-380
um avião competitivo. Somem-se
as preocupações com o meio-ambiente
que guiaram os estudos:
evitará o congestionamento
no tráfego aéreo e custará
menos e poderá
dispor de um
conforto
com salas de estar, biblioteca,
restaurante e até chuveiros.
Mas se trata também de um
avião prestes a modificar o modus
operandi dos aeroportos e
da vida dos passageiros, cada
vez mais numerosos e mais exigentes.
Sem dúvida, o A-380 figura
entre as aeronaves de um
futuro próximo, que há de impor-
se para o bem e para o mal,
com uma performance também
surpreendente: voa a 912 km/h
e a 10.700 m de altitude.
Assim, caberá à própria História
redimensionar as proporções
temidas por Paul Virilio em
termos de acidentes. Os pioneiros
da aviação, que motivaram
a presença das autoridades de
Santa Catarina em Toulouse,
sofreram intensamente com a
falta de tecnologia, a precariedade
dos aviões e dos terrenos
de pouso. A maioria deles pereceu
em acidentes aéreos.
Legado
A cidade de Florianópolis, na
condição de ilha, foi porto sempre.
Mas se tornou também aeroporto
tão logo a aviação se desenvolveu;
pousos foram realizados no sul da
ilha, haja vista que se conserva a
Base Aérea de Florianópolis próxima
à Ressacada, onde desceram
os primeiros Breguet XIV e Latté-
26, etc. Ainda está preservado o
antigo terreno do aeródromo do
Campeche, usado pelos aviadores
franceses na década
de 1920-30. Florianópolis
viu-se ligada à capital
europeia do ar e do
espaço, Toulouse,
graças a esse legado.
Toulouse. Modelo de avião futurista está em
cadeia de montagem e custa US$ 235 milhões
do ar e do espaço
A capital
No ar.
O A-380 tem 73 metrosd e
comprimento, 24,10m de altura, é
pintado à mão, tem mais conforto
que qualquer outro e agride menos
o m28 notícias do dia Mundo
Florianópolis, sábado e domingo, 21 e 22 de janeiro de 2012
Mônica Cristina Correa
Especial para o ND
O filósofo francês Paul Virilio,
em 1998, alertava
em seu livro “A bomba
informática”, que o século
XXI seria a “era das catástrofes”
porque as proporções dos
acidentes iriam beirar tragédias e
estas seriam compartilhadas globalmente
graças aos meios de comunicação
instantânea e à transmissão
simultânea de imagens.
O recentíssimo naufrágio da nau
italiana Costa Concórdia, manchete
em jornais no mundo, pode
ser uma amostra, pois desperta a
atenção pelo número de pessoas
a serem resgatadas: em torno de
4.200. Não longe da praia e dispondo
de grandes recursos para
salvamento, o acidente não escapou
à atmosfera trágica pelo fato
de envolver muita gente de uma
só vez. E deixa à deriva, literalmente,
a pergunta: como lidar
com o transporte contemporâneo,
cuja tendência é levar cada
vez mais pessoas?
Numa coisa, Virilio tinha incontestável
razão: os meios de
transporte, tornando-se muito
po
ssantes, também se tornam
“bombas” que podem destruir
muitas vidas ao
mesmo tempo. Ele
previa que aviões com 1.000 passageiros
seriam fabricados e um
crash com um aparelho desses
faria jus a suas proporções gigantescas.
O que era uma projeção
na época do lançamento do livro
já se torna realidade. Felizmente,
porém, as tragédias tendem a
rarear, porque os dispositivos de
segurança também se desenvolvem
continuamente.
Aéropostale
Um modelo de avião imaginado
por Virilio está em cadeia
de montagem em seu país natal.
Trata-se do A-380, da Airbus,
aparelho capaz de transportar
de 550 a 870 passageiros. Suas
proporções são capazes de deixar
boquiabertos os mais familiarizados
com a aviação. Foi o que
se deu com uma delegação
presente à chamada
capital europeia do ar e
do espaço, Toulouse, no
sul da França, em visita
à Airbus. A delegação
se compunha de representantes
das cidades
de três continentes (Europa,
África e América do Sul) que
um dia foram escala da empresa
de correio aéreo francesa, a Aéropostale
(1918-1931), nos primórdios
da aviação civil. A convite da
Prefeitura de Toulouse, sede da
Aéropostale (então Latécoère), as
cidades assinaram convênio para
a constituição de um patrimônio
imaterial e material da linha que tinha
em seu quadro de funcionários
pilotos como Saint-Exupéry, Mermoz
e Guillaumet, entre outros.
Se um dia esses homens foram
– legitimamente – tidos
como intrépidos porque voaram
em aviões precários e enfrentaram
intempéries confrontando
toda sorte de dificuldades, a capital
de que partiram demonstra
hoje que seus esforços não foram
em vão: a tecnologia e os esforços
tornaram Toulouse um
exemplo da capacidade
humana em aprimorar
máquinas. É o que a
delegação internacional
testemunhou também
em sua visita à “Cité
de l’Espace”, “museu”
e planetário ao mesmo
tempo, onde é possível
adentrar naves que já
estiveram em órbita no espaço
sideral. Na cadeia
de montagem do
A-380, orgulho
da
Airbus e da cidade, foi possível
constatar o gigantismo do avião e
perceber o que é sua montagem,
denominada “assemblage”, ou
seja, “ajuntamento”. De fato, as
peças chegam por meios fluviais
e terrestres, ou mesmo aéreos, de
procedências diferentes (Alemanha,
Espanha e Reino Unido), demandando
uma logística própria.
Afinal, são 73 metros de comprimento
e uma altura de 24,10m.
O futuro
Esse modelo concebido como
concorrente do Boing-747 e com
apoio da União Europeia deve ser
o futuro em matéria de transporte
aéreo, conforme deixam pensar
algumas de suas características:
transporta mais e consome
menos, faz menos barulho e libera
menos poluente. Hoje, apenas
63 exemplares estão em uso, mas
243 estão em fabricação. Sabe-se
que o sucesso de um modelo depende
da satisfação das necessidades
das companhias. E quais
encomendam um aparelho que
custa US$ 235 milhões, com asas
de 50 toneladas, é pintado à mão
e tem um tamanho que nem todo
aeroporto comporta? Quase todas,
pois o modelo providencia
mais conforto aos passageiros
e menos agressão ao meio-ambiente.
Só isto já faria do A-380
um avião competitivo. Somem-se
as preocupações com o meio-ambiente
que guiaram os estudos:
evitará o congestionamento
no tráfego aéreo e custará
menos e poderá
dispor de um
conforto
com salas de estar, biblioteca,
restaurante e até chuveiros.
Mas se trata também de um
avião prestes a modificar o modus
operandi dos aeroportos e
da vida dos passageiros, cada
vez mais numerosos e mais exigentes.
Sem dúvida, o A-380 figura
entre as aeronaves de um
futuro próximo, que há de impor-
se para o bem e para o mal,
com uma performance também
surpreendente: voa a 912 km/h
e a 10.700 m de altitude.
Assim, caberá à própria História
redimensionar as proporções
temidas por Paul Virilio em
termos de acidentes. Os pioneiros
da aviação, que motivaram
a presença das autoridades de
Santa Catarina em Toulouse,
sofreram intensamente com a
falta de tecnologia, a precariedade
dos aviões e dos terrenos
de pouso. A maioria deles pereceu
em acidentes aéreos.
Legado
A cidade de Florianópolis, na
condição de ilha, foi porto sempre.
Mas se tornou também aeroporto
tão logo a aviação se desenvolveu;
pousos foram realizados no sul da
ilha, haja vista que se conserva a
Base Aérea de Florianópolis próxima
à Ressacada, onde desceram
os primeiros Breguet XIV e Latté-
26, etc. Ainda está preservado o
antigo terreno do aeródromo do
Campeche, usado pelos aviadores
franceses na década
de 1920-30. Florianópolis
viu-se ligada à capital
europeia do ar e do
espaço, Toulouse,
graças a esse legado.
Toulouse. Modelo de avião futurista está em
cadeia de montagem e custa US$ 235 milhões
do ar e do espaço
A capital
No ar.
O A-380 tem 73 metrosd e
comprimento, 24,10m de altura, é
pintado à mão, tem mais conforto
que qualquer outro e agride menos
o meio-ambiente
Fábrica. Montagem do inovador A-380, na cidade de Touluse, França
divulgação/eio-ambiente
Fábrica. Montagem do inovador A-380, na cidade de Touluse, França
divulgação/