Os dados fazem parte da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008. O Instituto avaliou as características de dezenas de milhares de famílias espalhadas pelo Brasil quanto às despesas, por exemplo, com o item recreação e cultura segundo a faixa de renda. As informações foram apresentadas durante conferência na 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece no campus da Universidade Federal do Amazonas (UFRN), em Natal, até esta sexta-feira (30/07).
Durante a palestra “Economia da Cultura”, Fábio Sá Earp, economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse que o Brasil tem uma das piores divisões de renda do mundo. O país fica na frente apenas do Equador e da Bolívia. “Há 20 anos o cenário era pior do que hoje devido à alta inflação e uma política de salário mínimo pouco generosa. Hoje a situação é diferente. O reajuste tem sido acima da inflação. R$ 510, por exemplo, equivale a 300 euros, que é igual ao mínimo de Portugal. Mas temos que triplicar o valor”, salientou.
Gastos com entretenimentos
Segundo os dados apresentados por Earp, os gastos com entretenimentos dos muitos pobres, classe média alta, ricos e alta são, respectivamente, de R$, 8, R$ 87, R$ 240 e R$ 133. Isso é o reflexo da concentração de renda em determinadas camadas sociais. “Não adianta baixar o preço dos ingressos para shows. As famílias precisam ser subsidiadas. “As pessoas estão com fome de cultura. É só colocar um telão na praça que lota”, destacou.
Para a advogada que trabalha com licenciamento de obras de arte de artistas brasileiros, Cristiane Olivieri, o acesso ao entretenimento passa por toda uma discussão sobre as cadeias de produção cultural. Ela explicou que o governo, os artistas e os produtores culturais têm dificuldade em entender que um espetáculo envolve vários outros nichos do mercado, gerando impactos na economia e na vida das pessoas.
Segundo ela, o primeiro problema constatado envolve a formação profissional. Isso porque os produtores culturais, os técnicos cênicos e de luz, por exemplo, aprenderam na prática. “Um bom resultado se obtém com uma política que entenda toda a cadeia. Ainda não há essa visão global. Ficam apenas discutindo qual o impacto dos incentivos fiscais e se está regionalizado, dentre outros”, salientou.
Economia criativa
A economia criativa, de acordo com dados da Unctad, apresentados por Olivieri, foi a que mais cresceu no mundo, o dobro da tradicional. Ela afirmou que os países em desenvolvimento como o Brasil seriam os que teriam mais condições de ganhar com esse tipo de economia. Porém, não consegue porque não conversa internacionalmente.
Conforme Olivieri, em 2008, época da crise econômica mundial, a indústria de veículos, de bens, duas rodas, linha branca tiveram incentivos. Todavia, o mesmo não ocorreu com a cultura. O resultado foi a falta de recursos, em 2009, para investir nesse seguimento. “As pessoas têm interesse em investir na economia da cultura, todavia não têm capital. É preciso fortalecer a remuneração do brasileiro. Caso contrário, não teremos o consumidor final”, lamentou.
A resolução do problema, conforme Olivieri, passa pela capacitação. Quando o seguimento não é fortalecido na região Norte ou Nordeste para tirar a concentração dos grandes centros, não adianta disponibilizar recursos financeiros.
Fonte: Luís Mansuêto – Agência Fapeam