Pesquisa apoiada pela Fapesc visa aumentar a rentabilidade do cultivo do maracujá 

‌Estudo realizado no Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar, em Chapecó, teve fomento da Fapesc (Fotos: Arquivo Epagri) 

‌O cultivo do maracujá em Santa Catarina deve ganhar, em breve, recomendações técnicas para aumentar a produtividade e a rentabilidade do negócio, sem a necessidade do aumento de área cultivada. Uma pesquisa está sendo desenvolvida pelo Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar da Epagri, em Chapecó, com fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), e vai repassar importantes informações para o plantio e manejo do maracujá, com o objetivo de minimizar pragas e aumentar a rentabilidade das áreas, além de apontar as melhores plantas de cobertura para os pomares. 

‌Proposto pelo pesquisador da Epagri em Chapecó e doutor em Agronomia, Rafael Roveri Sabião, o projeto “Cobertura de solo e densidade de plantio de maracujazeiro em cultivo anual” foi contemplado pelo Programa de Apoio à Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação da Epagri. As atividades iniciaram em fevereiro de 2022, com a compra de insumos e a produção de mudas. O plantio do maracujá ocorreu em setembro do mesmo ano. As primeiras flores dos maracujazeiros apareceram em dezembro de 2022 e os primeiros frutos, em fevereiro de 2023. A colheita deve encerrar no final de julho. Ao final do processo, que deve ser repetido por mais um ano, um protocolo de práticas será entregue aos produtores. 

Pesquisa utiliza variedade catarinense de maracujá 

‌O maracujazeiro “SCS437 Catarina” é fruto do melhoramento genético da Estação Experimental da Epagri em Urussanga, Sul de Santa Catarina, selecionado por ser o mais aclimatado às condições daquela região. A variedade se adaptou bem às condições climáticas catarinenses, e esse foi um dos principais motivos para que fosse levada ao Oeste catarinense para a realização da pesquisa. “Em 2018, antes mesmo de iniciar o projeto atual, fizemos testes das populações do Catarina aqui em Chapecó. Deixamos ele livre para cruzar e fizemos alguns cruzamentos direcionados e mantivemos a população. Tivemos resultados medianos de produtividade, por conta de fenômenos naturais e secas muito grande entre novembro e dezembro em três anos seguidos. Mesmo assim vimos que essa variedade tinha um grande potencial na nossa região”, conta. 

‌O pesquisador explica que, quando as espécies de maracujá foram domesticadas, o melhoramento genético focou na qualidade de fruto e produtividade, sendo que a resistência a pragas e doenças não foi trabalhada no início. Entre as décadas de 80 e 90, os produtores começaram a perceber uma praga nos pomares, que reduzia a produção. A chamada Virose do Endurecimento dos Frutos, causada por um vírus, cujo vetor é o pulgão, é uma doença que desafia pesquisadores e produtores e uma das motivadoras do projeto de Sabião. Ele explica que o pulgão não é uma praga do maracujazeiro, mas quando procura alimento, pica as brotações do maracujazeiro. E se algum deles estiver com o vírus, que fica alojado na saliva do inseto, transmite para a planta saudável na picada de prova de outra brotação. 

‌Por não existir nenhum produto que elimine o vírus e pela dificuldade em conter sua proliferação a partir dos pulgões, a pesquisa avalia a adoção de manejos diferentes nos pomares. Uma ação é a produção de mudas em ambiente telado por um período maior, para que elas estejam mais fortes e desenvolvidas quando forem plantadas. Sabião explica que antes de ir para o campo, a planta fica de cinco a seis meses protegida em estufa. 

‌“Ela é plantada no campo em setembro, ficando na propriedade até julho do ano seguinte e depois é retirada. Esse vazio sanitário, que passou a ser orientado pela Epagri e fiscalizado pela Cidasc é favorável a todo setor produtivo. Nesse período em que não tem maracujazeiro no campo, não há como o vírus ficar hospedado em plantas que ficam de um ano para outro. O maracujazeiro é uma planta semi-perene que pode durar anos. Nos moldes que estamos propondo, interrompemos o ciclo da doença, eliminando o hospedeiro e diminuindo a transmissão. Sendo produzidas em ambiente protegido, as mudas de maracujá vão para o campo saudáveis. E mesmo que o pulgão pique, o pomar não vai adoecer tão rapidamente, pois não há hospedeiros infectados pelos vírus nos pomares. E com o vazio sanitário, minimizamos ainda mais as possibilidades de disseminação, já que todos os anos teremos plantas novas”, afirma. 

‌Além disso, o projeto estuda o adensamento entre as plantas, para verificar qual o espaço entre elas mais adequado para que, em uma mesma área, o produtor possa ter uma produtividade maior. Para isso, um experimento com 700 plantas, em uma área de 2 mil metros quadrados, no espaço da Epagri, em Chapecó, foi realizado. Os maracujazeiros possuem diferentes distâncias entre as plantas de 2 metros, 1,5 metro, 1 metro e 0,5 metro. Segundo Sabião, a partir disso será possível verificar qual o espaçamento ideal, já que principal objetivo da pesquisa é criar uma indicação segura de sistema de produção adensado de maracujazeiro em Santa Catarina. “Pensamos em colocar plantas mais próximas umas das outras para aumentar a rentabilidade da área, para que em um período mais curto, tenhamos maior produtividade e precocidade. Ser sustentável, para que consigamos ter mais rentabilidade na cultura sem ter que aumentar a área cultivada”.‌ 

Devido às questões climáticas, a pesquisa deve ser repetida por mais um ano, e os resultados também serão publicados em forma de artigo científico na Revista Agropecuária Catarinense, da Epagri. Segundo Sabião, os estudos a respeito das plantas de cobertura para proteger o solo durante o cultivo e o vazio sanitário também pode ser um habitat para algum inimigo natural que combata o pulgão, como a joaninha, ainda serão desenvolvidos, e serão incluídos nas recomendações aos agricultores.‌ 

O maracujá Catarina costuma render de 40 a 90 toneladas por hectare e o objetivo do pesquisador é que, com a implementação das indicações a partir do estudo, o produtor consiga, no mínimo, 50 toneladas por hectare no Oeste catarinense. 

Agregar valor ao produto 

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Um outro objetivo da pesquisa é conscientizar os produtores a utilizarem o maracujá de outras formas, que não apenas “in natura”, para agregar novas possibilidades de ganho com a comercialização do produto.‌ 

Ao longo do projeto, a equipe da pesquisa teve contato com produtores em Chapecó, Xaxim, Planalto Alegre, Caxambu do Sul, Guatambu, Nova Itaberaba e Coronel Freitas e entendeu que as frutas basicamente são comercializadas nos próprios municípios, em fruteiras e mercados ou vendidas para as prefeituras, para a alimentação escolar. “Temos um potencial mercadológico muito grande para abastecer o Oeste. Hoje, toda fruta vem da Ceasa de Curitiba ou do Sul do Estado. Por que não investir no mercado regional e agregar valor ao produto, não apenas fazendo polpa congelada, mas também geléias, doces e outros alimentos?”. 

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Nesse trabalho de diálogo com os produtores, os pesquisadores contaram, desde o início do estudo com a equipe de extensionistas da Epagri. 

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Saiba mais‌ 

Estima-se que no mundo existam 300 espécies de maracujá, sendo que mais da metade delas é originária do Brasil.‌ 

O tipo de maracujá mais plantado no Brasil é o azedo, sendo responsável por 95% da produção. 

‌O Brasil é o primeiro produtor mundial de maracujá, com 690.364 toneladas produzidas em 2020 (IBGE). Ceará, Bahia e Santa Catarina são, respectivamente, os maiores produtores da fruta. 

‌Santa Catarina produz mais de 45 mil toneladas de maracujá, cultivados em uma área de 1.800 hectares. 

‌O maracujá é uma das poucas frutas mais populares – senão a única – que mantém o sabor tanto cozida quando congelada. 

‌O suco comercial de maracujá é o segundo mais consumido no país, perdendo apenas para o de laranja. E o maracujá não está nem entre as 10 frutas mais produzidas em território nacional. 

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Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de SC 

Milena Nandi | milena.nandi@fapesc.sc.gov.br 

Telefone: (49) 98878-7828 

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