Pequena e sem dentes

Pesquisadores do Centro de Pesquisa Paleontológica (Cenpaleo), maior acervo paleontológico de Santa Catarina, realizaram as escavações do fóssil de uma nova espécie de dinossauro da América do Sul

Por Chayenne Cardoso e Danielle Farias
Universidade do Contestado (UNC)
danielle.farias@unc.br

O que aconteceu no mundo há 542 milhões de anos? Quais espécies viviam no planeta Terra nesta época? Entre tantas dúvidas que fascinam a mente humana, a 300 quilômetros de distância da capital catarinense, na região Norte de Santa Catarina, o Centro de Pesquisa Paleontológica (Cenpaleo), da Universidade do Contestado (UNC), dá algumas pistas e encontra respostas para muitas das perguntas da humanidade.
Em novembro de 2021, uma nova espécie de dinossauro foi descoberta pelo Cenpaleo, uma parceria com o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O coordenador do Centro de Pesquisa Paleontológica, professor Luiz Carlos Weinschutz, conta que essa história começou há mais de dez anos, no estado do Paraná.
A pesquisa foi desenvolvida pelos paleontólogos da UNC, em quatro etapas de campo entre 2011 e 2014. Neste período, a equipe do Cenpaleo realizou a coleta sistemática, ou seja, ficaram responsáveis por deixar a área quadriculada, tirando quadrados perfeitos, antes de marcar e embalar o material coletado para estudos.
“Coletamos duas toneladas de material e seguimos pesquisando”, destaca Weinschutz. O pesquisador relembra ainda o primeiro contato dos pesquisadores catarinenses com o fóssil, quando foi encontrado por um morador da cidade de Cruzeiro do Oeste, na década de 1970, durante visita a uma universidade paranaense.

Dinossauro Berthassaura leopoldinae

Batizada Berthasaura leopoldinae, a nova descoberta foi um dinossauro que viveu entre 70 e 80 milhões de anos atrás, tem porte pequeno, com aproximadamente 1 metro de altura. É a primeira espécie sem dentes encontrada na América do Sul.
O fóssil é um dos mais completos, do período cretáceo, já achados em todo o país. O trabalho de escavações localizou restos do crânio, mandíbula, coluna vertebral, cinturas peitoral e pélvica, e membros anteriores e posteriores.
“Na última década, dezenas de fósseis foram coletados na região noroeste do Paraná, provocando a descrição de novas espécies, particularmente pterossauros. A descoberta de um dinossauro, o segundo da região, mostra a importância desse sítio fossilífero, conhecido como cemitério dos pterossauros”, explicou o coordenador do Cenpaleo.
Ainda há muito material para ser estudado e outras espécies para serem descobertas. Há 25 anos o Cenpaleo realiza essas pesquisas. Atualmente, o Cenpaleo atua com as linhas de pesquisas de três eras geológicas: Paleozoico, Mesozoico e Cenozoico, além do Programa Antártico Brasileiro.
“Nossa primeira publicação sobre um fóssil foi um pterossauro, em 2014. Nesta época ainda não haviam registros sobre a espécie”, finaliza o pesquisador.

Levantamento paleontológico em redes nacional e internacional

Ao longo dos 25 anos de existência, o Centro de Pesquisa Paleontológica da UNC criou uma rede de apoio e de parcerias nacionais e internacionais. Desse trabalho em conjunto resultou, por exemplo, na participação do mapeamento de paleotocas no Geoparque Caminhos dos Cânions do Sul. São os abrigos subterrâneos escavados por mamíferos da megafauna, ou animais gigantes, extintos e que viveram na Era Pré-histórica.

Localizado em sete municípios, entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o local foi reconhecido pela Unesco, em abril de 2022, como território de relevância geológica internacional. Desde 2017 a equipe do Cenpaleo realiza levantamento do potencial paleontológico da região.

“Já realizamos várias campanhas de levantamento de paleotocas, pois a região apresenta uma quantidade excepcional destas estruturas, e ainda há mais etapas de pesquisa, com novos levantamentos de pontos de interesse”, contextualiza o coordenador do Cenpaleo, Luiz Weinschutz. 

UNC na Antártica

A equipe de pesquisadores do Cenpaleo produziu um estudo inédito sobre a Paleoflora Antártica. No artigo, publicado em fevereiro nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, os pesquisadores descrevem a evolução da flora no continente Antártico durante a Era Mesozoica.

Pesquisador Cenpaleo
Professor Luiz Carlos Weinschutz

Incentivo Fapesc

O Centro de Pesquisa Paleontológica (Cenpaleo) possui uma das mais bem equipadas reservas técnicas do país. E tanta pesquisa, precisa de investimento. 

Em 2021, o espaço ganhou recursos da Fapesc para investir em equipamentos e materiais importantes para dar seguimento às pesquisas. 

Com o investimento, cerca de R$ 76 mil, foi possível adquirir: mesa de luz, câmera e lentes para o laboratório fotográfico e computadores para digitalização; além de ar-condicionado e desumidificadores, para climatização da reserva técnica, e caixas de armazenamento e horas de utilização de microscopia eletrônica.

Page Reader Press Enter to Read Page Content Out Loud Press Enter to Pause or Restart Reading Page Content Out Loud Press Enter to Stop Reading Page Content Out Loud Screen Reader Support