Devido à inexistência de atendimento pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em Santa Catarina nas áreas de voz e disfagia, uma equipe formada por médicos e fonoaudiólogos da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) estudou por três anos as alterações nas estruturas envolvidas no processo de deglutição, que podem levar a problemas respiratórios. A pesquisa foi desenvolvida no Ambulatório de Voz do Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago, em Florianópolis, que tem se tornado um Centro de Referência no estado, desde a sua criação, em 2009. A clínica hoje atende cerca de 30 pacientes por mês, com demanda crescente.
Durante o ato de deglutir pode haver entrada de alimento, saliva ou líquido nas vias respiratórias, levando a problemas como pneumonia e infecções recorrentes. “A disfagia significa dificuldade para comer, dificuldade para deglutir. São alterações no ato de engolir que dificultam ou impedem a ingestão oral segura, eficiente e confortável, caracterizada pela anormalidade da transferência do bolo alimentar da boca para o estômago”, explica Maria Rita Rolim, professora do curso de Fonoaudiologia e coordenadora do projeto apoiado pela FAPESC. O diagnóstico prematuro da disfagia pode prevenir a ocorrência de desnutrição, desidratação e alterações pulmonares, que podem levar à piora no quadro de saúde geral do indivíduo ou até mesmo à morte. Com o projeto, os pesquisadores se voltaram à melhoria da qualidade dos atendimentos aos pacientes do SUS na área da deglutição e alterações vocais.
A ocorrência de disfagia pode ter as mais diversas origens, principalmente doenças ou lesões neurológicas que afetam o controle da deglutição, como acidente vascular cerebral, traumatismo cranioencefálico, neoplasias em sistema nervoso central e periférico e doenças degenerativas. Os atendimentos a cerca de 1000 pacientes no HU detectaram que as lesões mais encontradas a partir do exame de videolaringoscopia foram nódulos (22,6%), pólipos (11,7%) e edema de Reinke (7%). As lesões encontradas eram de caráter benigno, e por este motivo os pacientes não podem ter cirurgia realizada pelo SUS. O diagnóstico foi feito por meio do exame de videolaringoscopia, que permitiu verificar a condição laríngea dos pacientes, assistidos pelo médico Otorrinolaringologista.
Segundo a coordenadora do estudo, a partir dos atendimentos foi possível observar a melhora na qualidade da alimentação dos pacientes, diminuição de alterações pulmonares, melhora na nutrição e hidratação e também na qualidade de vida dos indivíduos, da família e até mesmo de seus cuidadores. Os pacientes que apresentaram alterações vocais receberam alta em 70% por casos. Foram atendidas pessoas de todo o estado de Santa Catarina, com idade entre 10 e 90 anos, de ambos os sexos. Desta forma, foi observada prevalência de mulheres (77%) pela procura do serviço de Fonoaudiologia, sendo as maiores queixas a rouquidão (54%), pigarro (8%), fadiga vocal (7%), esforço durante a emissão (6%), tosse (6%) e globus faríngeo (4%).
A pesquisa recebeu apoio da FAPESC (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina) desde 2013 no edital PPSUS, o Programa de Pesquisa para o SUS, em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), por meio do Ministério da Saúde. A implantação do Ambulatório de Voz e Disfagia do HU, bem como do curso de Fonoaudiologia, foi possível devido a um projeto apoiado pelo mesmo edital entre 2007 e 2009. “O apoio financeiro foi essencial para a abertura dos ambulatórios, compra de materiais necessários ao atendimento, compra de instrumentos para avaliação diferenciada e equipamentos específicos para reabilitação fonoaudiológica. Poucas são as instituições públicas de reabilitação que prestam atendimento especializado na área de Fonoaudiologia. O atendimento visou a excelência no atendimento, melhora na qualidade de saúde e de vida a esta população”, enfatiza a professora.
Fonte: Jéssica Trombini – Coordenadoria de Comunicação da FAPESC
Fotos: Divulgação/UFSC