Diante do fechamento de diversas fábricas de calçados do polo de São João Batista nos últimos anos, pesquisadores da Pós-Graduação em Economia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) resolveram estudar as condições de competitividade da região. Eles conheceram as dificuldades e o potencial das empresas frente ao mercado, a fim de revigorar sua competitividade. “Se a tendência continuar, além de aumentar o desemprego, habilidades de trabalhadores e de organizações acumuladas ao longo dos anos vão se perdendo. Com isso, a capacidade da região de sustentar seu nível de desenvolvimento e geração de renda ao longo dos anos pode ficar comprometida”, explica o professor Pablo Bittencourt, coordenador da pesquisa.
Com apoio da FAPESC (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina) por meio de Demanda Espontânea, o estudo teve duração de sete meses e foi dividido em quatro etapas: estudo do setor calçadista em escalas mundial e nacional; elaboração de questionários e aplicação em empresas e instituições da região e do Vale dos Sinos (RS); elaboração de relatório de pesquisa sobre as condições competitivas e elaboração de relatório de sugestões de políticas públicas e privadas.
Linha de produção da Ala Calçados, de São João Batista (Reprodução/youtube)
O estudo revelou que os maiores entraves ao crescimento do setor, no nível macroeconômico, foram a taxa de juros elevada, o câmbio valorizado entre 2010 e 2014 (que permitiu mais importações) e a tributação elevada. Em nível de mercado, os problemas são a adaptação da produção às mudanças da moda e às exigências dos consumidores. “As empresas mais competitivas chegam a lançar seis coleções por ano, tornando a capacidade de influenciar o comportamento do consumidor, de ditar a moda, algo cada vez mais complexo”, diz Bittencourt. Em relação ao APL (Arranjo Produtivo Local), o obstáculo é a organização interna insuficiente para dar conta dos problemas relacionados à concorrência, o que é potencializado pelas disputas internas.
O APL de São João Batista foi comparado ao do Vale dos Sinos, já que possui produção similar (calçados femininos) e é considerada a maior congregação de empresas calçadistas do país, onde são adotadas medidas para melhorar o posicionamento das indústrias. Segundo o pesquisador, lá existe um nível de organização institucional melhor do que em Santa Catarina: “Para se ter uma ideia, há atualmente, em curso no APL rio-grandense desde medidas de apoio à exportação, até medidas de capacitação dos fornecedores mais básicos, os ateliês. Aqui as medidas são menos freqüentes, o que torna necessários esforços ainda maiores por parte das empresas, individualmente.” Outras diferenças detectadas foram o nível de atualização tecnológica, a interação entre usuários e fornecedores para adaptar as empresas às necessidades dos primeiros e iniciativas empresariais ofensivas como o lançamento de produtos para nichos específicos do mercado.
Ainda que o provável baixo crescimento do mercado interno em 2015 possa representar um desafio adicional, Bittencourt ponderou que a recente alta do dólar pode levar a um redirecionamento da produção rio-grandense para exportações. Esse fator poderia ajudar a região de São João Batista a se expandir no mercado nacional, pois APL do Vale dos Sinos concentra os maiores produtores nacionais, que diminuiriam a concorrência interna.
O relatório final enfatizou que pode ser grande valia o estimulo de agências públicas a ações conjuntas, como compra de material e a realização de feiras de calçados, especialmente para os micro e pequenos empresários. Os pesquisadores destacaram a forte necessidade de capacitação das firmas, especialmente para o desenvolvimento de novos produtos: “muitas das empresas ainda não se atentaram para a necessidade de ampliar suas capacitações para a inovação em produto, agregando valor em aspectos como a ergonomia e conforto, assim como ainda não perceberam o potencial de nichos de mercado.”
Fonte: Jéssica Trombini – FAPESC