Na próxima quinta-feira, dia 28, eles embarcam para os Estados Unidos, para testar as habilidades do carro, na Shell Eco-Marathon Américas, em Houston. A disputa chama a atenção de centros de pesquisa e empresas automotivas de todo o mundo.
Os estudantes da UFSC trabalharam oito meses no protótipo apelidado de Arara Azul – em referência à espécie típica do Brasil. A expectativa é que, na competição, o veículo se aproxime à eficiência energética de 1 mil quilômetros por litro de gasolina. Para atingir esse índice que supera o líder da competição de 2012, de 930 quilômetros por litro, os estudantes da UFSC tiveram que investir em quesitos como alinhamento e direção.
— São detalhes no carro que diminuem o atrito e fazem ele ir mais longe — explica Rodrigo, que lidera o time.
A equipe se mobilizou até para angariar os R$ 80 mil, aplicados no veículo e na logística para se participar da prova deste ano. No desenvolvimento do carro com tecnologias que beiram os de Fórmula 1 e com o desempenho de dar inveja aos que circulam nas ruas, a experiência de quatro anos ajudou.
Os universitários trabalham por títulos nacionais e internacionais desde 2009. Foram dois anos sem conseguir terminar os protótipos a tempo das disputas até se chegar ao desempenho de 412 quilômetros por litro, no carro da competição do ano passado, garantindo-se o 7º lugar.
Para o professor de Engenharia Mecânica da UFSC que orienta os estudantes, Henrique Simas, o trabalho possibilita mais compreensão dos conceitos vistos em sala, além de treinar os alunos para solucionar problemas e aplicar as teorias de maneira eficiente e sustentável.
O diretor de assuntos externos para a América Latina da Shell, Fábio Caldas, complementa que a maratona traz benefícios para alunos, professores e instituições, pois grandes centros de pesquisa e empresas especializadas no setor ficam atentas às ideias apresentadas.
— A competição mostra o que está sendo pensado em tecnologia de eficiência energética em universidades de ponta. É importante para a UFSC. Para os alunos, podem surgir oportunidades de emprego — considera.
Ideias para as ruas
Os carros que competem na Shell Eco-Marathon Américas podem dar os sinais das próximas tendências no setor automotivo. Para o engenheiro mecânico e diretor do campus de Joinville da UFSC, Luís Fernando Calil, os veículos da disputa trabalham para atingir níveis extremos de desempenho, são como a “alta costura” do setor.
O custo dos veículos e até a falta de conforto são pontos que inviabilizariam a transferência para as ruas a curto prazo. Mas Calil reforça que aspectos dos carros podem e deverão ser aplicados em veículos comuns.
— A estabilidade, a movimentação da roda e o tipo de suspensão são conceitos diferenciados que podem ser incorporados — aponta o professor.
O próprio modelo de três rodas, extremamente estreito e de pneus finos, deve ser emprestado para o dia a dia, em função da eficiência, como estima o professor. Nesse sentido, os alunos que sabem montar esses veículos já saem na frente. O diretor da Vertical Sustentabilidade da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (ACATE), Gerson Luiz Zimmer reforça que as indústrias podem tomar como ponto de partida trabalhos como o dos universitários na produção de motores em geral.
— A universidade já tem o conhecimento consolidado que pode ser aproveitado pelas indústrias. Isso contribui para um referencial competitivo na área no país — acrescenta o diretor da Umwelt, de biotecnologia ambiental.
Fotógrafo: Charles Guerra / Agencia RBS
O carro da E³ ( Equipe UFSC de Eficiência Energética)
– Carro: Arara Azul
– Equipe: 10 estudantes de Ciências da Computação, Física, Engenharia Elétrica, Eletrônica, Automação, Mecânica, Controle e Automação e Jornalismo. Mas só nove irão para Houston
– Tempo de produção: oito meses
– Custo: R$ 10 mil
– Peso: cerca de 40 kg
– Velocidade máxima: 35 km/h
– Como funciona: é como um carro simplificado, de três rodas. Não há marchas e existem só três pedais, um acelerador, um freio traseiro e um dianteiro. Informações como rotação do motor e velocidade serão enviadas via computador para a equipe que dará as coordenadas para a piloto, como acelerar ou frear mais
– Diferenciais: os estudantes se prepararam para construir o carro respeitando-se questões de segurança, incluindo roupas adequadas. Um braço de medição de alta resolução, uma espécie de robô, foi utilizado para setores com alinhamento e direção
– Categoria: protótipo movido à gasolina. O veículo ainda participa nos quesitos segurança, comunicação e inovação tecnológica
A prova
– Objetivo: com eventos anuais, a competição de eficiência energética desafia a se projetar e construir veículos ultra eficientes, com menor gasto de combustível
– Foco: estudantes do ensino médio e universitários
– Histórico: a competição começou no laboratório da Shell, em 1939. Mas nos moldes atuais, com estudantes, ocorre desde 1985
– Equipes: cerca 150 veículos, dos EUA, México, Canadá, Brasil e Guatemala. No Brasil, serão três participantes e as outras duas são de Minas Gerais.
– Quando: 4 a 7 de abril
– Velocidade mínima média exigida: 25km/h
– Categorias: protótipo, que é um veículo simplificado, e conceito urbano, mais próximo a carros comuns, com quatro rodas e farois. As competições ocorrem em diferentes combustíveis. São avaliados ainda quesitos como segurança, comunicação, inovação tecnológica, adversidade e design
– Prêmio para cada uma das duas principais categorias: US$ 2 mil. A marca também oferece uma ajuda de custo para os estudantes participarem da maratona
– Duração: quatro baterias: duas de avaliação técnica e duas de corridas. A distância total a ser percorrida é de 9,7 quilômetros
– Recorde do ano passado: 930 km por litro, do veículo protótipo Mater Dei, de Evansville, Indiana
Fonte: Diário Catarinense/
gabrielle.bittelbrun@diario.com.br
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