UFSC e Epagri ajudam a preservar espécies nativas do Rio Uruguai

A Bacia do Rio Uruguai é a maior em Santa Catarina e tem a maior diversidade de peixes no estado, mas os agrotóxicos usados na agricultura e os efluentes da suinocultura e avicultura no oeste catarinense vem prejudicando a pesca na região há décadas. Para melhorar a saúde dos rios e difundir os benefícios da piscicultura, duas chamadas públicas do PRONEX contemplaram estudos do Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce (LAPAD), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

 

Esse grupo do Departamento de Aquicultura monitora espécies de peixes mediante coletas trimestrais em 23 pontos, distribuídos ao longo da bacia do alto rio Uruguai, em localidades distintas. Com isso, conhece melhor este ambiente e identifica os principais problemas que afetam os cardumes, de modo a propor estratégias para mitigar os impactos observados. Em relação à piscicultura, o LAPAD e a Epagri vêm desenvolvendo tecnologia que possibilite a criação das espécies nativas, algo relativamente novo no estado.

 

 Em Santa Catarina predomina o cultivo de espécies exóticas de peixes, cujo valor de mercado em geral é menor se comparado ao das espécies nativas. As exóticas também podem afetar negativamente o meio ambiente, quando exemplares dessas espécies escapam das áreas de cultivo para rios, e disseminam doenças e parasitas, além de competirem por espaço e por alimento com a fauna local. A despeito desses perigos, a falta de conhecimento sobre o cultivo de espécies nativas inviabiliza a atividade em grande escala.

 

“O produtor quer uma receita completa para produzir e reproduzir peixes em cultivo, mas o pessoal não tem muita paciência para esperar os resultados das pesquisas”, afirma Evoy Zaniboni Filho, do Centro de Ciências Agrárias. Ao trabalhar em rede, pesquisadores agilizaram o processo de geração do conhecimento e conseguiram, por exemplo, definir um “pacote tecnológico” contendo as instruções sobre como obter sucesso criando o jundiá (Rhamdia quelen) – dentre as nativas, a espécie mais cultivada no sul do Brasil. “Já tem produtor fazendo engorda deste peixe no estado todo”, acrescenta.

 

Antes de receber verbas do PRONEX, o LAPAD conseguia entregar aos produtores apenas 22.050 alevinos de jundiá, segundo o pesquisador Álvaro Graeff (da Epagri de Caçador). Com o financiamento, estes números aumentaram consideravelmente nos diferentes períodos reprodutivos (em 2007/2008 foram 189.583 alevinos; 2008/2009, 168.838; 2009/2010, 185.010; 2010/2011, 129.020). Devido ao aumento na oferta de alevinos, hoje o jundiá é comum nos cultivos na região.

 

O LAPAD está desenvolvendo protocolos de produção de outras espécies nativas, entre elas o dourado (Salminus brasiliensis), a piracanjuba (Brycon orbignyanus), o grumatão (Prochilodus lineatus) e o suruvi (Steindachneridion scriptum). Estão são apenas algumas das 98 espécies encontradas no Alto Uruguai que tem grande potencial para cultivo. “Um dourado faz brilhar os olhos do produtor, e vários se interessam em levá-lo para sua propriedade. Apesar de termos tecnologia para reprodução e criação das formas jovens, falta obtermos dados sobre a engorda, para o peixe atingir um tamanho bom.”

 

A continuidade dos estudos iniciados em 2008 com R$470 mil do PRONEX vem sendo garantida pela verba de R$560 mil, aprovada na segunda chamada pública do programa, em 2010. “Esse financiamento é extremamente importante porque possibilita trabalhos dessa natureza, de médio prazo”, diz Zaniboni. Por meio da interação dos conhecimentos obtidos a campo com aqueles gerados em laboratório, o LAPAD busca aliar a sustentabilidade dos recursos naturais com o uso racional da biodiversidade nativa, na tentativa de garantir qualidade de vida para as gerações atuais e futuras. Tanto que a aposta atual é “peixes orgânicos”, criados sem medicamentos e fertilizantes, “num processo mais natural com pequena redução de produtividade, mas que melhora a qualidade do produto, a saúde do consumidor e a saúde ambiental”, finaliza Zaniboni.

 

Reflexos acadêmicos

 

Durante a vigência do projeto Preservação e cultivo de peixes nativos na bacia do rio Uruguai, o LAPAD contabilizou 25 artigos científicos publicados em revistas especializadas; 12 resumos expandidos apresentados em eventos científicos; 14 resumos publicados em anais de congresso; produção de 3 livros e de 27 capítulos de livros; apresentação de 18 trabalhos de conclusão de curso, 16 defesas de dissertação de mestrado e 8 defesas de tese de doutorado.

 

Hoje, a equipe do LAPAD inclui 19 alunos cursando mestrado, 9 cursando doutorado e 3 doutores com bolsa de pós-doutorado, fora diversos alunos de graduação que realizam estágios de iniciação científica e trabalhos de conclusão de curso ligados às linhas de pesquisa do laboratório.

Fonte: Fapesc, com contribuições do LAPAD.

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