Há anos estudando as formas de comunicação de pessoas surdas, a UFSC investe agora no entendimento de como se desenvolvem crianças que usam a língua falada e a língua de sinais simultaneamente.
Famílias foram convidadas a participar da pesquisa que envolve crianças ouvintes, filhas de pais surdos, e crianças surdas, que crescem em meio a libras e português, e passaram pela cirurgia de implante coclear − aparelho utilizado para restaurar a audição em pacientes portadores de perda auditiva profunda.
Com crianças da faixa etária entre um ano e meio e quatro anos são realizadas filmagens que documentam seu convívio com os familiares – interagindo com os pais surdos, em Libras, e com pessoas ouvintes, em português.
Com meninos e meninas entre quatro e sete anos são realizados vários testes de forma lúdica. Este grupo foi também convidado a participar com suas famílias de atividades em conjunto com outras crianças. Os pais ainda participam de seminários com a equipe de pesquisadores. As observações permitem abordar questões sobre como as crianças se desenvolvem como bilíngues e também sobre como interagem as línguas de um bilíngue.
“São reflexões que podem contribuir com a educação destas crianças e com o desenvolvimento dos estudos sobre a aquisição bilíngue e bimodal”, explica a coordenadora dos estudos, a professora da UFSC Ronice Müller de Quadros, especialista em estudos sobre a comunicação da pessoa surda. Ela explica que bilíngues bimodais são aqueles que estão expostos a duas línguas diferentes com modalidades diversas: uma língua falada (o português, por exemplo) e uma língua sinalizada (como Libras).
“Estas combinações nos dão uma nova visão de
bilinguismo e nos permitem pensar sobre a arquitetura de novas formas de linguagem”, complementa a professora que coordena o Núcleo de Aquisição de Língua de Sinais, setor direcionado ao desenvolvimento de teorias linguísticas e sua aplicação na educação bilíngue e na inclusão social de pessoas surdas.
Segundo ela, as dinâmicas auxiliam as investigações sobre como as crianças ouvintes crescem bilingues e bimodais e, mais especificamente, como as crianças surdas adquirem a língua de sinais e ao mesmo tempo aprendem a língua falada, com ou sem a ajuda do implante coclear. Assim os estudos colaboram com o entendimento sobre os primeiros estágios do desenvolvimento da linguagem bilíngue bimodal.
Os trabalhos envolvem crianças brasileiras e americanas com dois pares de línguas: a língua brasileira de sinais e a língua portuguesa, e a língua americana de sinais e a língua inglesa.
Executada via Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU), a pesquisa é uma colaboração entre UFSC, Gallaudet University (universidade americana reconhecida por ser uma instituição de nível superior para pessoas surdas) e a Universidade de Connecticut. A iniciativa tem apoio financeiro do CNPq e do National Institutes of Health (EUA). No Brasil, o projeto é coordenado pela professora Ronice Müller de Quadros, e nos Estados Unidos pelas pesquisadoras Diane Lillo-Martin e Deborah Chen-Pichler.
Mais informações com a professora Ronice Müller de Quadros: ronicequadros@gmail.com
Material produzido para a revista da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU) ∕ www.fapeu.br
Jornalista responsável: Arley Reis ∕ arleyreis@gmail.com