Apesar das várias batalhas pela implementação no novo Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, o processo de iniciativas legislativas para melhorar o setor não deve parar. Recentemente, o deputado Sibá Machado apresentou um conjunto de ações que deverão ser discutidas, em conjunto com a classe científica, como forma de aproveitar o potencial brasileiro já com as mudanças proporcionadas p ela nova constituição.
Um dos fatores apontados para serem criados já em 2015 seria um fundo específico de financiamento do setor. Ele viria a substiutir os recursos do CT-Petro, um dos fundos setoriais que fazia parte do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), e que agora integra o Fundo Social do Pré-Sal. A iniciativa viria recheada com recursos da ordem de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, ou seja, mais de R$ 80 bilhões.
Para o presidente do Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap), Sergio Gargioni, a construção de fundo permanente para apoiar as atividades do setor é extremamente necessária. O dirigente, no entanto, explica que é fundamental entender da onde viria o dinheiro para capitalizar este instrumento.
“Existem muitos fundos, então eu vejo que é muito viável sim. Os instrumentos estão aí e é uma decisão política de apostar na tecnologia, e precisa mesmo. Poderia ser do Fundo Social, que é grande, e C&T não deixa de ser social porque gera emprego e renda e é esse o objetivo”, sugere.
Estímulo
Outro tema destacado na apresentação de Sibá Machado foram formas de se fomentar a inovação no País. Segundo o parlamentar, um dos meios – que teria aprovação de boa parte da classe científica – seria a implantação de parques tecnológicos ou incubadoras nos mais diferentes rincões do Brasil.
Gargioni também é a favor da ideia. Contudo, ele acredita que ela só poderá ser possível caso haja uma política massiva de formação de recursos humanos qualificados. Neste quesito, ressalta, o Brasil está muito atrás de nações desenvolvidas.
“O grande problema brasileiro é que formamos muito poucos cientistas. Engenheiros, por exemplo, são só 6% .Qualquer outro país mais desenvolvido, como a Finlândia, por exemplo, forma 30%. Cingapura forma 40%, a Coreia 40% e a França é ainda mais que isso. Não adianta a gente continuar formando gente para ter emprego no serviço público. É preciso formar empreendedores. Para isso, é necessário ter boas universidades, bons centros de tecnologia. Desta maneira, a implantação de incubadoras funcionará. Se não tiver quem empreenda, não adianta”, alertou.
Graduação itinerante
O problema de formação dos novos profissionais brasileiros também foi algo pensano no conjunto de discussões propostos pela bancada da ciência. A sugestão do petista seria a construção de um “Ciência na Fronteira”, programa que teria a incubência de financiar a ida de estudantes de lugares distantes do País para as mais renomadas universidades do Brasil.
A iniciativa, de acordo com o presidente do Confap, é vista com bons olhos pela classe científica. O dirigente explica que iniciativas de mobilidade, como seria este programa, já existem no âmbito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científco e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O que falta fazer é torná-las maiores e irrigá-las permanentemente com recursos.
A simples criação do programa não resolveria o problema da falta de recursos humanos. Gargioni ressalta que é necessário construir um ambiente estruturado para receber de volta o estudante que foi ser capacitado em outra localidade. Ele também afirmou, que antes de se estruturar a iniciativa, é necessário identificar quais são as áreas em que a região mais necessita de mão de obra qualificada.
“Não adianta pegar um engenheiro de uma região que não tenha, por exemplo, a área de física nuclear avançada, e fazer com que ele faça doutorado neste segmento em São Paulo para depois ele voltar e não ter com o que trabalhar. Ele tem que voltar com condições de empreender naquele local de onde veio. É necessário construir um planejamento de 10 ou 20 anos e então formar competência e criar uma economia adequada para aquela região”, explicou.
Jovens mentes
Formar novos profissionais também passa pela estimulação do público mais jovem em favor das ciências exatas. No cronograma de futuras ações para a ciência está a elaboração de uma política que leve a iniciação científica para o ensino fundamental e médio. Na visão de Gargioni, essa medida seria estratégica para o País.
“Particularmente, gosto muito desta iniciativa. É barata, é fácil e é motivadora. Desde cedo, tem muita competência que não é revelada por falta de oportunidades. Já existem algumas bolsas nesta área, mas tem que fazer um melhor investimento. Uma criança de 12, 13 anos ou até menos, é muito capaz de criar coisas, desde que seja estimulada”, destaca.
Debates
Os tópicos apresentados por Sibá Machado ainda serão melhor discutidos entre a classe política e a científica. Um novo encontro para tratar sobre estas temáticas deverá ocorrer ainda este ano.