Como a pesquisa muda o campo

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O que projeta Santa Catarina como produtor agrícola não é apenas a boa qualidade do solo e o talento dos seus agricultores. O Estado conta com um excelente quadro de pesquisadores que desenvolvem cultivares de sementes e definem orientações para que os agricultores possam alcançar até recorde mundial de produtividade de arroz, por exemplo, como ocorreu em Agronômica. Um desses cientistas empreendedores, que desde o ano passado está à frente da Estação Experimental da Epagri de Itajaí é José Alberto Noldin. O grupo de 39 pesquisadores liderado por ele estuda, também, banana, hortaliças, citros, plantas bioativas e coordena levantamento socioambiental.No caso do arroz, as cultivares criadas em Itajaí e plantadas no Brasil e exterior rendem mais de R$ 700 mil em royalties à empresa. Inaugurada em outubro de 1976, no governo de Antônio Carlos Konder Reis, a Estação Experimental de Itajaí está completando 35 anos este mês. A Epagri, estatal de pesquisa agrícola do Estado tem unidades, também, em outras regiões e, além disso, desenvolve parcerias com outros centros de pesquisa e universidades do Brasil.

José Alberto Noldin

Chefe da Estação Experimental da Epagri de Itajaí e pesquisador na área de arroz irrigado. Apaixonado pela cultura do arroz e ambientalista, José Alberto Noldin, 57 anos, continua atuando como pesquisador, apesar de ter assumido a gestão da unidade. Natural de Limeira, interior de Brusque, é filho de pequeno agricultor que produzia mandioca, fumo e arroz. Andava 15 quilômetros, de bicicleta, para fazer o ensino médio. Foi aluno da primeira turma de engenheiros agrônomos de SC, pela UFSC, em 1979, e ingressou na Empasc (hoje Epagri) em janeiro de 1980. Fez mestrado na UFRGS e doutorado na Universidade Texas A&M (Texas AgricultureMechanicalUniversity). É casado com a professora Pedra ClaumannNoldin, já aposentada, e tem três filhos. Na foto, o pesquisador mostra os vários tipos de arroz desenvolvidos pela Estação de Itajaí: arroz vermelho, integral, preto, branco, parboilizado, farinha de arroz e arroz arbóreo.

Santa Catarina já atingiu recorde mundial de produtividade de arroz graças às pesquisas da Epagri. Como o centro de Itajaí colabora nas inovações para o campo?
José Alberto Noldin
– A Estação Experimental de Itajaí foi fundada em 1976, pelo então governador Antônio Carlos Konder Reis e, desde aquela data pesquisa arroz. Já colocamos no mercado 17 cultivares. As pesquisas de cada uma demoraram, em média, 12 anos. Envolvem testes de 10 mil tipos de arroz. As avaliações incluem, também, processo industrial e de panela, para saber se o produto agrada ao consumidor. O recorde de produtividade, mais de 15 toneladas por hectare, obtido em Agronômica, é fruto de uma série de trabalhos. A pesquisa é uma parte. Hoje, temos desenvolvido cultivares com três vezes o potencial de 30 anos atrás, mas, para ela expressar isso, precisa de condições como preparar a terra, colocar o adubo na quantidade certa, controlar as plantas daninhas, pragas e outras coisas. Isso depende do produtor. A média de produtividade de SC é de 7 mil toneladas por hectare, e a do Brasil, de 4 mil para 5 mil toneladas.

Vêm aí as variedades de arroz vermelho e preto?
Noldin – Vamos lançar duas cultivares no ano que vem. Uma é o arroz vermelho, que oferece diferenciais para a saúde como antioxidantes. Também vamos lançar uma cultivar clearfield em fevereiro, que permite melhor controle de ervas daninhas. No caso do arroz vermelho, conseguimos desenvolver uma variedade mais fina, que pode ser cultivada e agrada o consumidor. O meu trabalho nos EUA foi na área de arroz vermelho. Vamos lançar também o arroz preto, que desenvolvemos a partir de sementes da Europa.

Como são as pesquisas para banana e outras frutas?
Noldin – O Estado é o terceiro maior produtor de banana do Brasil e o maior exportador. Exportamos para outros estados e também ao Mercosul. São cerca de 30 mil hectares cultivados. Hoje, o foco da Epagri é reduzir o uso de produtos químicos para o controle de doenças. Como o mercado quer banana perfeita, sem manchas, orientamos os produtores a colocarem os cachos de banana em cabo aéreo (tipo teleférico) até a casa de embalagem. As nossas pesquisas colaboram, também, para melhorar a produção em outras regiões do Brasil. Além de tecnologia adequada, estamos promovendo a produção integrada, que permite a rastreabilidade. Também temos a terceira maior coleção de citros do Brasil (laranja, bergamota e limão). Pesquisamos, ainda, hortaliças orgânicas. Incentivamos, especialmente, a produção de pepino, tomate e cenoura para a produção em abrigos.

E as plantas bioativas?
Noldin – Trabalhamos com plantas medicinais. Procuramos oferecer uma alternativa de renda ao produtor. Temos a maior coleção de plantas medicinais do Brasil e, quem sabe, das Américas. Elas podem ser utilizadas tanto para chás quanto para cosméticos, medicamentos e, diretamente, para alimentos. A erva- de-sal, de SC, substitui o sal.

Notas

Socioambiental

A participação no Programa Flora Atlântica Catarinense, para desenvolver o inventário florestal (florístico) do Estado, foi um dos trabalhos de destaque feitos pela Epagri Itajaí. A estação ficou com a responsabilidade de levantar o impacto das florestas na vida dos agricultores. Segundo José Alberto Noldin, foram percorridos 45 mil quilômetros. O levantamento apontou que parte das famílias depende das florestas, como as que atuam com pinhão e erva-mate, mas, de maneira geral, se percebe um envelhecimento no meio rural. Em todas as regiões do Estado, os jovens estão saindo do meio rural.

Pesquisadores

A Estação Experimental de Itajaí conta com 39 pesquisadores, dos quais18 são doutores. No grupo de arroz, são 10 pesquisadores, sendo nove doutores e um mestre. Noldin integra a equipe de arroz e, mesmo na atividade de gestão, para a qual foi convocado pelo presidente da Epagri, Luiz Hessmann, continua com alguns projetos. Um deles é interinstitucional, com a Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina) e o CNPq, que envolve mais de 50 pesquisadores da área de arroz de centros de pesquisa e universidades de vários estados.

Ambientalista

Para José Noldin, a única forma de evitar que os jovens deixem o setor agrícola é oferecendo oportunidade de renda; e as leis ambientais precisam mudar.
– Eu me considero um ambientalista, mas, muitas coisas, hoje, estão equivocadas. Vamos contribuir para tirar o produtor do meio rural – alerta.
Para ele, a melhor forma de incentivar a preservação da natureza é pagando serviços ambientais aos agricultores.

Antioxidantes

O arroz e o feijão integram o par perfeito para refeições todos os dias, avalia José Noldin. Segundo ele, estudos apontam que arroz vermelho tem antioxidante e ajuda a emagrecer. Farinha de arroz é melhor para enpanados.

Fonte: Blog da Estela Benetti (Diário Catarinense)

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