Professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e pesquisadora da Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam), Malheiro coordena, junto com o médico cardiologista Jaime Arnez, uma pesquisa com células-tronco em pacientes com doenças cardíacas, como por exemplo, a cardiopatia isquêmica.
A insuficiência cardíaca é considerada um grave problema de saúde pública. No mundo hoje existem diferentes alternativas terapêuticas de combate à doença, variando desde um acompanhamento clínico até transplantes cardíacos. Dentre as várias alternativas, a terapia com células-tronco tem ganhado destaque no meio científico como a mais promissora abordagem para esse tipo de doença.
Nesta entrevista exclusiva à Agência FAPEAM, Malheiro fala um pouco sobre o desenvolvimento da pesquisa que é inédita na região Norte e uma referência no Brasil. Acompanhe.
Agência Fapeam – A pesquisa com células-tronco em pacientes com cardiopatia isquêmica consiste em quê?
Adriana Malheiro – Consiste, por meio de medicação, coletar células-tronco do paciente e implantá-la posteriormente por cateterismo. O projeto é uma parceria entre o Hemoam e Hospital Universitário Francisca Mendes, da Ufam. O preparo da célula-tronco é feito no Hemoam e toda a parte clínica de tratamento do paciente é feita no Francisca Mendes, pela equipe de cardiologistas coordenados pelo dr. Jaime Arnez.
Agência Fapeam – A pesquisa pretende chegar a quais resultados?
A M – A literatura científica sugere que, em pacientes cardíacos, o uso de células-tronco direcionados ao coração facilita o seu implante e irrigação, porém há poucos estudos clínicos nesse sentido. Além disso, existem várias rotas de administração de células-tronco no coração, no entanto a melhor via para que as células sejam implantadas e se estabeleçam no local não está bem definida.
Agência Fapeam – Onde buscaram recursos para desenvolver o projeto?
A M – O projeto teve aprovação no Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (PPSUS) da Fapeam em 2005 e no edital de Ciência e Tecnologia do CNPq, uma verba inicial de aproximadamente R$ 380 mil das duas instituições. Porém, devido a alguns problemas relacionados à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), a liberação para começarmos só foi nos dada no ano passado. A partir da liberação, adquirimos equipamentos, os reagentes e todo material necessário para a pesquisa. Em novembro de 2009, submetemos o primeiro paciente ao implante de células-tronco.
Agência Fapeam – Células-tronco é um tema polêmico. Quais células são utilizadas na pesquisa?
A M – As células-tronco que trabalhamos são as adultas. Não se pode confundir com a célula embrionária. Utilizamos a célula-tronco onomatopeica, que fica alojada na medula óssea. Ela tem a capacidade de formar novos vasos sanguíneos no coração e a consequência disso é a melhora dos batimentos cardíacos do paciente.
Agência Fapeam – Que tipo de pacientes se encaixa na pesquisa e quantos serão analisados?
A M – O Conep aprovou 20 pacientes. Os critérios são ter tido um infarto e apresentar uma lesão no coração. Nós iremos avaliar o grau desse infarto e saber se podem receber células-tronco. O limite máximo de idade é 70 anos, para não colocar em risco a vida do paciente.
Agência Fapeam – O paciente submetido ao implante em novembro do ano passado já apresenta algum resultado?
A M – São apenas três meses de tratamento. Só é possível fazer uma análise clínica confiável com seis meses, apesar de o paciente relatar melhoras.
Agência Fapeam – Podemos dizer que a pesquisa é referencial no Brasil?
A M – Com certeza. Pesquisas como essa levam tempo para se obter resultados. Vamos estudar, avaliar e publicar trabalhos referentes ao estudo. No Brasil, são apenas seis grupos que trabalham com implante de células-tronco em pacientes cárdicos. No Norte, somos o único. A equipe costuma dizer que esse projeto é regional, pois foi criado aqui, foi aprovado pelo Estado e os pacientes são todos daqui.
Carlos Fábio e Kelly Jhennifer – Agência Fapeam