“No trabalho, descrevemos uma nova organela com características similares a vacúolos de plantas (do inglês, Plant-like vacuole, ou PLV) no parasito Toxoplasma gondii. A organela possui uma estrutura peculiar, definida através de técnicas de tomografia associadas a microscopia eletrônica, apresentando-se como um vacúolo grande contendo algumas vesículas internas, que pode interagir com outras organelas do parasito. Após invadir outra célula hospedeira, o PLV gradualmente se fragmenta, sendo por isso não reconhecido como uma estrutura característica em parasitos intracelulares”, explica Kildare Miranda, professor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF-UFRJ), um dos responsáveis pela pesquisa.
Com a identificação da organela, é possível que sejam desenvolvidas técnicas específicas para desativá-la, permitindo que a doença seja combatida sem agressão ao corpo do hospedeiro. “Um aspecto importante no combate a doenças parasitárias é a seletividade do tratamento. Isso significa que a droga utilizada para combater o parasito deve ser seletiva e causar o mínimo de efeitos colaterais para o seu hospedeiro. Nesse sentido, um dos focos das pesquisas para o desenvolvimento racional de novas drogas é a procura por características estruturais, bioquímicas e fisiológicas que sejam específicas para os parasitos, que não existam, portanto, nos seus hospedeiros, servindo como alvo para o desenvolvimento de um quimioterápico”, expõe o professor.
A toxoplasmose possui tratamentos limitados, principalmente em níveis mais avançados ou em pacientes especiais. Desta forma, a descoberta permite o desenvolvimento de combate mais eficaz contra a doença. “A caracterização de uma organela que possui características estruturais e fisiológicas parecidas com a de vacúolos de células de plantas pode abrir perspectivas para o desenho racional de novos tratamentos contra a toxoplasmose. Além disso, o vacúolo se forma em estágios extracelulares do parasito e é justamente neste momento que ele está mais suscetível a ação de drogas”, relata Kildare.
O perigo da toxoplasmose consiste na facilidade com que ocorre a contaminação. De acordo com o especialista, a infecção com o toxoplasma pode ocorrer através da ingestão de formas infectivas através da água e alimentos contaminados. A doença é, segundo ele, normalmente assintomática em adultos, mas pode causar cegueira em alguns indivíduos e retardo mental em crianças congenitamente infectadas.
“A toxoplasmose é uma das infecções parasitárias mais comuns ao homem e possui ampla distribuição, podendo infectar cronicamente aproximadamente um terço da população mundial. Isso não significa que este número de pessoas desenvolva a doença, pois o toxoplasma é um parasita oportunista que causa quadros de patologia mais severos em pacientes imunocomprometidos”, conclui o pesquisador.
Fonte: Olhar Vital – UFRJ