Luis Antonio Oliveira é um executivo profissional determinado a ajudar Santa Catarina a formar pessoas e empresas competitivas. Engenheiro eletrônico formado em 1974, passou sua vida trabalhando na área de tecnologia, telecomunicações e tecnologia da informação (TI). Coordenou, na Embratel, parte dos projetos das redes de comunicação experimentais. Na França, envolveu-se em projeto que foi o embrião da automação bancária no Brasil. Fez carreira em multinacionais como a Bull francesa, Alcatel (Brasil, França e Espanha), Tadiran (Brasil e um pouco em Israel). Foi presidente da Radio Frequency System (RFS) para toda região da América Latina, Caribe e México. Em abril, quando dirigia o projeto de implantação do grupo americano John Mezzalingua em todas as regiões do mundo que falam idioma de raiz latina (parte da Europa e da África e América Latina), foi convidado por Paulo Bornhausen a acompanhar missão do governo catarinense à Catalunha. Em setembro, tornou-se diretor executivo (CEO) do Inova@SC, e, na última semana, presidente do Conselho do Sapiens Parque.
Projeto maior
Eu não sou militar, nem catedrático, nem político. Sou um executivo. Um cearense, homem de formação internacional. Trago como contribuição minha experiência, determinação e obsessão por qualidade. Há um projeto maior chamado SC@2022 Estado Máximo de Inovação, da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, com quatro grandes operações: inovação, sob a gestão de Sérgio Gargioni, da Fapesc, nova economia, meio ambiente legal e educação tec. A parte de inovação é a que eu tenho aqui, incluindo os acordos internacionais, hoje com a Catalunha e Portugal. Estou fazendo um grande trabalho de integração de esforços, porque inovação é uma coisa relativamente simples, estimulante por natureza, e ao mesmo tempo complexa, porque é muito fácil de perder o controle.
Bacana mas sem integração
Comecei a olhar SC e me deparei com a surpreendente situação: havia 70 e poucas iniciativas de inovação já em curso, trabalho bacana, bem feito, por gente competente e dedicada, mas faltava um projeto para sincronizá-las. Estou juntando tudo, o que no inglês se chama de melting pot, pondo tudo ali dentro, o que estão fazendo a Acate, a Fiesc, as regiões. O projeto Inova@SC pretende gerar empresas e pessoas competitivas.
Foco e velocidade
Não dá para se comportar de forma tradicional, tem de inovar na gestão, na forma, no comportamento, na atitude, mas fundamentalmente, na velocidade. O tempo é o nosso maior inimigo. No mundo executivo funciona assim: meta, métrica, resultado, qualidade. Tem que vender, fabricar, entregar e receber. Eu estou aqui exaustivamente exercitando este ciclo. Nosso trabalho não termina em power point, termina em empresas e pessoas competitivas, com inovação e tecnologia.
Tutorial
O Estado me põe motivado, mas é um trabalho tutorial. O caminho que o governo referenda requer um sincronismo, uma atividade exaustiva de aglutinar esforços. É absolutamente possível que a gente vá na direção do estado máximo da inovação. Paulo Bornhausen é o secretário da inovação, o fato dele trazer um executivo de mercado mostra uma visão particular, pode ser até que ele esteja errado em me trazer, mas mostra uma visão não ortodoxa. O Estado está muito próximo e preparado para fazer esse projeto andar e acho que já está andando.
A se respeitar
A China é um fator de motivação. Quando a competição não é predatória, e o chinês hoje é um competidor em fase de qualidade, precisa se respeitar muito. No negócio de inovação e tecnologia, a experiência chinesa é para ser respeitada e servir de incentivo. Pela persistência, pela determinação, pela capacidade de trabalho dos chineses. Há uma pequena chance de resolver um problema se responder positivamente a três perguntas: O problema existe? O problema tem solução? Eu sou parte da solução? Então, uma coisa que admiro no chinês é a determinação com que vai atrás das soluções.
Uma coisa, outra coisa
Esse Estado foi um grande líder têxtil e o primeiro pé de algodão estava a 2 mil quilômetros daqui. Hoje não dá mais para fazer isso. Mas você tem, por exemplo, tecnologia de tecido produzida no Estado que o Exército Americano usa em fardas para torná-las imperceptíveis aos sensores infravermelhos. Isso é inovação. Inovar é encontrar formas que deem mais competitividade, perenidade mercadológica, reconhecimento de cliente. É muito simples, inovar são processos mais competitivos, métodos novos, alternativos, usos heterodoxos. É o novo, o diferente. Inovar não é produto, é atitude, comportamento, pensamento, forma. Inovar não é ciência, é tecnologia. Inovar é integração. Você diz vou produzir o frango mais barato do mundo não sei onde, e daí? Se não conseguir botá-lo na mesa do consumidor, não adiantou nada. Produz o mais moderno e competitivo satélite de comunicações e agora? Não cabe no avião. Então, inovar é um processo lógico, integrado, logístico.
Jogo globalizado
Com a Catalunha demoramos dois meses para assinar o acordo de cooperação. Normalmente, leva três ou quatro anos. Se comparar com SC, há muita semelhança, são 6,5 milhões de habitantes, geografia parecida, uma condição cultural parecida e uma relação de desenvolvimento tecnológico muito próxima. Há 10 anos a região era devastada, Barcelona fez um projeto inovador, levou ao pé da letra e se transformou numa referência mundial. Você chega lá hoje, o sistema de lixo é pneumático, o caminhão de manutenção passa por baixo da rua, a lajota da calçada é calculada para o velhinho caminhar às 4h da manhã, o cego vê o semáforo, é um negócio maluco de design e tecnologia. Então, essa similaridade aliada ao momento econômico traz uma oportunidade de ouro de cooperação. Ninguém sobreviverá no mundo moderno sem se globalizar. Quando eu digo empresas e pessoas competitivas, estou falando de empresas com capacidade de exportar também. A ideia é que as empresas catarinenses virem players globais.
Momento certo
O cenário brasileiro só ajuda, o Brasil é a bola da vez, virou a sexta economia do mundo, está com uma visibilidade internacional impressionante. Só vejo vantagens. Parto de um princípio, de que tudo que se faça é produto dos sonhos, da crença, você tem que acreditar. O catarinense é um empreendedor, acho que é uma coisa cultural. E o fato do Estado ser muito mais evidente na pequena e média empresa, pode transformar muita média em grande empresa. O momento é ideal. O Estado tem diferenciais importantes, a questão dos portos é um deles.
Capital
Florianópolis é um caso bastante particular, enigmático e muito interessante. Tem as universidades, os parques tecnológicos e tem o projeto do Jardim Botânico que está comigo. Nada disso me assusta. Assumi a presidência do Sapiens Park e acho que é tranquilo, vou ver se tiro esse besouro voando em dois anos, um ano e pouco. Precisa de um projeto de infraestrutura, porque ninguém compra sonho: sonho só em padaria. O Sapiens tem alguns projetos, tem um cluster de saúde sendo concebido, tem lá a Petrobras. É um besouro, na prática não voaria, mas vai voar.