Há alguns anos, ao participar de um desfile na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, o advogado Flávio Boabaid, de Florianópolis (SC), se viu em uma situação delicada. Ao chegar à Apoteose, mal conseguia caminhar de tanta vontade de fazer xixi, e não havia sinal de banheiro disponível ao redor.
“Eu já tinha visto gente urinando no chão, mulheres numa situação horrível. Pensei: bem que poderia ter uma salvação”, conta o catarinense de 55 anos, que acabou se tornando um empreendedor. Ele acaba de conseguir a patente mundial de uma invenção que promete acabar com o xixi na rua e, de quebra, contribuir para a preservação do meio ambiente: o “banheiro portátil”.
O produto foi batizado de ‘Número 1’ – o nome já diz, é só para xixi. Com tamanho de 20 cm por 10 cm, abre como uma espécie de carteira – por fora é envolto por um plástico e por dentro tem um material absorvente, semelhante ao de uma fralda.
“Mulheres, por exemplo, podem urinar de pé, sem contato com germes. Basta ter um local com um mínimo de privacidade.”
Segundo Boabaid, o banheiro portátil é capaz de reter e fazer “sumir” em segundos até 700 ml de urina. “O comum é que uma pessoa urine entre 170 e 250 ml por vez”, explica.
“Há pessoas que já reclamaram de vazamento, mas é muito raro”, diz o empresário, que começou a produzir uma versão maior, capaz de absorver 1 litro.Todo o material usado é compostável e desaparece rápido do meio ambiente, segundo Boabaid. “O produto ajuda a economizar até 20 litros de água, já que não é preciso dar descarga nem lavar as mãos, no caso dos homens.”
A novidade foi testada na última edição do Ironman, realizada no dia 31 de maio em Florianópolis. Atletas e espectadores da disputa de triatlo receberam o produto. “Já conhecia e virei fã”, diz Caco Raabe, de 49 anos, diretor da Expo Ironman. “Sempre tenho no meu carro e no carro da minha mulher. Temos duas filhas pequenas, é prático para situações inesperadas”, afirma.
Uma ideia na farmácia
Nas palavras do próprio inventor, o projeto foi concebido como uma mistura de “fralda com saquinho de cachorro quente”. Pelo menos foi isso que Boabaid visualizou quando, ao passar por uma farmácia, meses depois do episódio da Sapucaí, imaginou a solução para esse tipo de “aperto”.
Não foi um processo rápido. Ele demorou mais de um ano até que o protótipo do produto ficasse pronto, em 2012. “Eu não conseguia conceber como faria para ter um produto fino como um envelope, envolto por um plástico, e que abrisse e fechasse quando precisasse”.
Peregrinou por muitas fábricas de fraldas do Brasil e fez contato até com uma empresa americana até encontrar, em São Paulo, um parceiro que aceitasse produzir sua ideia.
Custo e concorrência
Uma máquina específica está em fase final de desenvolvimento e já começa a produzir os “banheiros portáteis” em escala maior – hoje, um pacote com 3 unidades é vendido por R$ 8,70 em um supermercado de Florianópolis. No último ano e meio, Boabaid acredita que já tenham sido produzidas mais de 40 mil unidades.
O invento foi patenteado e está protegido de cópias pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI), com sede em Genebra. Segundo Boabaid o objetivo é concorrer com banheiros químicos e sacos plásticos comercializados com finalidade semelhante, mas que segundo ele não têm a mesma rapidez de absorção.
Número 2 em testes
Além de procurar investidores, o inventor tem um novo projeto em desenvolvimento, apoiado com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc): está em estudo há um ano a produção do produto ‘Número 2’.
“É premissa da Fapesc acreditar que um projeto vá para o mercado e dê certo. Os materiais usados são totalmente biodegradáveis”, diz Fernando José de Souza, coordenador do programa Tecnova em Santa Catarina. “Agora a gente acompanha a execução do projeto, ele tem um plano de trabalho a seguir. Acreditamos que os testes nos materiais levarão ainda mais um ano”.
Boabaid sonha longe. “Imagino como será o banheiro público do futuro: um local com um cesto de lixo no meio 80 homens urinando voltados para uma parede, sobre um estrado com uma manta absorvente por baixo, sem nada indo para o esgoto”, vislumbra o empresário.
Fonte: G1 – SC