Para os agricultores familiares, que representam mais de 90% do total dos quase 200 mil estabelecimentos rurais do estado, a alternativa é a diversificação da produção, o planejamento, a melhoria da gestão da propriedade e principalmente a sua organização em forma de cooperativas e associações para ganhar escala, viabilizar estrutura de armazenagem e com isso acesso ao mercado. “É importante produzir produtos de alta densidade econômica, que permitam gerar maior renda por área de terra, e ainda, agregar valor a esses produtos”, afirma Spies, complementando que, com isso, é possível gerar uma renda capaz de manter e atrair os jovens para o campo, já que serão eles os sucessores da geração de produtores atuais.
Há boas chances dos produtores saírem do endividamento, com essa boa safra anunciada, segundo Spies. Para pagar as dívidas, o agricultor precisa de lucro e o lucro é resultado de uma boa produtividade e de um bom desempenho no mercado (bons preços). A metade da equação para bons lucros está garantida, que é a produção. Sobre a outra metade (preço), ainda há dúvidas, pois depende do comportamento do mercado global, além dos custos de produção que, neste momento, já estão consolidados.
Segundo Spies, para a Safra 2009/2010, Santa Catarina espera uma colheita “cheia” para o setor de grãos já que estamos sob o efeito do fenômeno El Niño, que proporciona um verão muito chuvoso, com chuvas frequentes e bem distribuídas em todo o território catarinense. Assim, a produção de
milho e soja deverá ser recorde, também pelas altas produtividades. “Espera-se que no período de colheita, que acontece a partir de março, as chuvas
diminuam”, afirma Spies, lembrando que nos últimos 7 anos SC teve perdas expressivas em 5 safras na produção agrícola devido à estiagens. Mais de 80% da perda de produção de grãos é devido ao stress hídrico, o que não ocorre nesta safra.
Spies alerta, no entanto, que é preciso urgentemente investir em sistemas de captação, armazenagem e utilização da água da chuva em irrigação de lavouras. “Nesta safra estamos sob o efeito do El Niño, como já falei, mas a próxima seca não é uma questão de “se”, mas sim uma questão de “quando” ela virá”, disse Spies que acha fundamental a preparação para trabalhar cada vez mais com agricultura irrigada, principalmente a agricultura familiar, que deve focar suas atividades nas culturas e criações de alta densidade econômica, que são aquelas que dão grande renda em pequenas áreas. “Felizmente SC possui uma média de quase 2000 mm de chuva por ano, mas esta água ainda é desperdiçada”, lamenta Spies.
As pastagens também estão crescendo muito bem, aproveitando-se do
calor e da umidade. Com isso, a produção de leite e carne bovina também é beneficiada. Vale destacar que a produção de leite é a atividade que mais cresce em SC, tendo apresentado crescimento acima de 15% ao ano. SC já produz mais de 2 bilhões de litros de leite por ano.
A produção de arroz não foi significativamente afetada pelo aumento das chuvas neste ano. Apesar de chover muito, em SC não houve alagamento das várzeas, o que aconteceu no Rio Grande do Sul, que é o maior produtor de arroz, o que pode ser uma boa notícia para os produtores catarinenses, em função de expectativa de preços melhores.
Com relação aos suínos e aves, a produção ganha com o aumento de oferta de grãos, embora a suinocultura tenha sofrido grave crise em 2009, por causa dos preços baixos e o setor de carne de frangos tenha sido fortemente afetado pela retração no mercado internacional, como consequencia da crise financeira internacional.
Segundo Spies, a produção agrícola e o mercado de commodities como o milho e a soja estão sujeitos às regras de oferta de demanda. Se a produção for muito grande, a oferta aumenta e os preços podem cair. Deve-se lembrar,no entanto, que a produção catarinense de milho e soja é pequena diante do volume nacional (fica em torno de 5%) e portanto uma supersafra em SC não faz o preço do mercado isoladamente cair. O Estado é deficitário na produção de milho e soja, pelo grande volume consumido na produção de suínos e aves. Por isso, é preciso ficar de olho na produção do RS, PR, MS, MT e GO, que são grandes produtores dessas commodities.
Para Spies, a grande preocupação dos produtores rurais continua sendo acesso a mercado e a bons preços para seus produtos. “Esse dilema se acentua em anos de grande oferta, como deverá ser a próxima colheita”, acredita.
Mais informações: Airton Spies/Chefe da Epagri/Cepa, no telefone: (48 – 3239-3960), e-mail: spies@epagri.sc.gov.br