UFSC pesquisa sapinho ameaçado de extinção

 O Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC estuda um dos menores anfíbios documentados pela ciência brasileira – e que se reproduz em uma das maiores reservas de minério de ferro do mundo, a Serra de Carajás, no Sudoeste do Estado do Pará.

 

Com tamanho um pouco maior do que o de uma unha da mão, o Pseudopaludicola canga vive restrito aos terrenos encharcados da Serra de Carajás. Entre 12 espécies de Pseudopaludicola registradas na América do Sul, é uma das mais raras em termos de distribuição geográfica.

 

Considerada exclusiva para região do complexo mineral explorado há décadas, o P. canga faz parte da lista de espécies ameaçadas de extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza, onde recebe a categoria de “Deficiente de Dados”. Na lista de espécies ameaçadas do Estado do Pará, aparece como “Em Perigo”.

 

“Estudamos um sapinho muito interessante. Ele vive em um ambiente de muita falta de água, temperaturas acima de 30 graus, onde fica escondido no meio das rochas. Ao cair de uma chuva, mesmo que seja fora da estação chuvosa, inicia sua reprodução, durante o dia ou à noite. Ele é um oportunista, tem uma estratégia de vida diferente da maioria dos anfíbios da Amazônia, que só se reproduzem na estação chuvosa”, explica o professor do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC Selvino Neckel de Oliveira, coordenador dos estudos.

Planos de conservação

Localizada no interior da Amazônia, a Serra de Carajás é considerada uma das maiores províncias minerais do mundo. Desde 1988 faz parte da Floresta Nacional de Carajás, uma área de conservação federal que permite a exploração mineral e é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Em meio à floresta, em áreas da chamada savana metalófila, ou campo ferruginoso, um afloramento de rochas de ferro, se desenvolve o pequeno anfíbio estudado pela UFSC.

 

A pesquisa executada pelo professor, pós-graduandos e estudantes de graduação busca subsídios para planos de conservação da espécie e já resultou em orientações para o ICMBio. Entre elas, a necessidade de proteção de áreas que pela importância para alimentação ou reprodução do P. canga não devem ser mineradas. Além disso, a manutenção de lagos naturais para preservação do ciclo reprodutivo e a abertura de outros que sirvam de auxílio inicial para recomposição de populações em áreas que não ofereçam esse refúgio.

 

“O projeto é uma oportunidade de levarmos nossos alunos para conhecer a Amazônia e formar biólogos que estão vendo a possibilidades de conciliar conservação com áreas de extração de recursos naturais”, destaca o professor. “A Floresta Nacional de Carajás tem uma grande área sendo explorada, mas há também muitos ambientes preservados em função da presença da mina naquele local”, avalia o professor que coordenou estudos sobre hábitos alimentares do pequeno P. canga, o tamanho de machos e fêmeas em atividade reprodutiva, tamanho da desova e tempo de desenvolvimento embrionário, entre outras características biológicas da espécie. Para estudar o canto do sapinho, a equipe fez gravações e avaliou parâmetros como número e intervalos de canto.

 

De acordo com trabalhos já publicados em periódicos científicos e informações levantadas pela equipe da UFSC, programas de conservação da espécie devem considerar a variabilidade populacional e a preservação de diferentes áreas de savana deve ser uma condição prioritária. “Os dados de abundância e atividade reprodutiva sugerem que, apesar das altas densidades, esta espécie de sapinho pode ser altamente suscetível a perturbações como as observadas ao longo da exploração do minério”, alerta o professor.

 

Segundo ele, além de ser importante do ponto de vista ecológico (é uma espécie que se alimenta de insetos e ao mesmo tempo é alimento para serpentes e aves), o sapinho pode ser um bioindicador da saúde do ambiente. O potencial farmacêutico dos anfíbios, um dos mais importantes grupos na descoberta de substâncias para síntese de medicamentos, é outro estímulo para estudo do pequeno sapinho.

 

O Museu Paraense Emílio Goeldi, o Programa de Pós-Graduação em Ecologia e o Curso de Graduação em Ciências Biológicas da UFSC são parceiros das pesquisas executadas por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU).

 

Mais informações com o professor Selvino Neckel de Oliveira / neckel@ccb.ufsc.br

 

Material produzido para a revista da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU) ∕  www.fapeu.br
Jornalista responsável: Arley Reis ∕  arleyreis@gmail.com

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