Mostrar que o debate sobre os grandes desafios da economia dos anos 2000 passa pela necessidade de superação da pobreza, mas sem esquecer os princípios da sustentabilidade socioambiental. Esse será o tema central da conferência Bases ecológicas da sociedade e da economia, que será proferida pelo economista Clóvis Cavalcanti, durante a 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que será realizada de 10 a 15 de julho de 2011, na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia (GO).
Professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e atualmente pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, do Recife, Cavalcanti tem se dedicado nos últimos anos à chamada economia ecológica. Para os seguidores dessa corrente de pensamento, a economia nada mais é do que um subsistema do sistema ecológico. Nesse sentido, Cavalcanti observa que não existe sociedade sem natureza, mas existe natureza sem sociedade. Por isso, em sua conferência, ele vai chamar a atenção para a insustentabilidade do sistema industrial moderno, que segue a regra de extrair-produzir-descartar.
De acordo com ele, a ciência moderna é reducionista. “Ela ampliou e levou o conhecimento para muitas e distintas direções, mas nos privou de ideias sobre como formular e resolver problemas que surgem das interações entre os seres humanos e o mundo natural”, explica. “De que forma o comportamento humano se conecta com mudanças nos ciclos hidrológicos, de nutrientes e de carbono? Quais são as formas de retro-alimentação entre os sistemas social e natural, e como tais formas influenciam os serviços que recebemos dos ecossistemas? A economia ecológica, como campo de estudo, tenta responder a essas questões.”
Em sua conferência, Cavalcanti vai apresentar os princípios e instrumentos relativos à ligação entre meio ambiente e a economia. “Com esse propósito, vou introduzir no debate a dimensão biológica (ou dimensão da vida), além de uma visão do papel das leis da natureza, na percepção da realidade econômica e social, com as implicações que daí decorrem diante dos processos humanos”, adianta. “Isso é necessário, principalmente para que se possam conceber regras e ferramentas de uma proposta científica, que contribua para a realização consciente do desenvolvimento sustentável – ou seja, progresso humano sem sacrifício irreparável dos ecossistemas.”
Para Cavalcanti, a sociedade moderna está em rota de colisão com a natureza. Por isso, é preciso respeitar as taxas de regeneração da produção de recursos naturais (ciclo hidrológico, por exemplo) e de assimilação de dejetos (gás carbônico, por exemplo) dos ecossistemas. De acordo com ele o desenvolvimento sustentável deve consistir em promover a arte da vida e é, antes de tudo, de dimensão qualitativa. “Esses temas são centrais para o pensamento ecológico-econômico desenvolvido pela Sociedade Internacional de Economia Ecológica, da qual faço parte, e de sua componente brasileira, a Eco-Eco, de qual sou diretor”, diz. “Essas são algumas das questões que vou abordar durante minha participação na reunião da SBPC.”
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